Ainda espero por um filme em que, ao ser morto com a bala de prata, ele verta uma lágrima na cena final
Por motivos diferentes, andei tratando aqui de duas figuras pouco aceitas em sociedade: o conde Drácula e Jack, o Estripador. De fato, eles têm poucas qualidades que os redimam. Os dentes de Drácula geraram uma galeria de mulheres-vampiro, que só descansaram quando tiveram cravada uma estaca no meio do decote, e Jack esfaqueou outras tantas com rigor cirúrgico. Com isso, o cinema nunca lhes concedeu um filme a favor. Mas há um colega deles que paga por crimes de que não tem culpa: o Lobisomem.
Para começar, ele não pediu para ser lobisomem. Na história original, passada no País de Gales, Lawrence Talbot, bom sujeito, honesto, gentil e opaco, é mordido por um lobo em certa noite de lua. Basta isto para que, sob a tal lua, cresçam-lhe pêlos, garras e dentes e ele se torne metade homem, metade lobo. Daí, apenas por ter estraçalhado um ou dois para se defender, precisa ser morto com uma bala de prata ou a golpes de uma bengala com cabo de prata.
O lobisomem clássico do cinema foi Lon Chaney Jr, em “O Lobisomem” (1941). Para transformá-lo, usaram o “stop-motion”, a filmagem interrompida para cada aplicação da maquiagem. Mas, calçado e vestido até o último botão, ele só se tornava um lobo nas partes visíveis, o rosto e as mãos. Ao voltar a si, não precisava nem fazer a barba.
John Landis, em “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), foi mais realista. Quando David Naughton vai se transformar, seu corpo inteiro se contrai e se repuxa, os membros se tornam patas, as roupas vão sendo destruídas e ele fica de quatro e em pêlo —com o que, ao passar o efeito, está nu, claro.
Mas esses filmes, para mim, têm um problema. Em ambos, o lobisomem morre ameaçador e rosnando. Sou contra. Um dia, espero que, em seu último instante de vida, ele verta em close uma lágrima —chorando seu triste destino, para provar que não se reconhecia naquela pele de lobo.