Ruy Castro – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO – Em Londres, a primeira-ministra britânica Theresa May assinou o documento que dá início formalmente ao Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. É um dos divórcios mais chorados da Europa moderna —por ambas as partes—, e só vai acontecer porque os ingleses, tendo bebido mal na véspera, votaram no ano passado a favor da separação. Mas a Escócia, também parte do Reino Unido, não quer se separar da Europa. Quer se separar do Reino Unido.
Essa aspiração é secular, mas, agora, o Brexit lhe dá um pretexto para que um novo referendo entre os escoceses, com Sean (“James Bond”) Connery à frente, garanta a sua independência. Da Escócia, alguns de nós só conhecemos o uísque, o saiote e a gaita de foles, mas me pergunto como seria se a independência tivesse acontecido há mais tempo. Saberíamos que muitos bambambãs, que sempre vimos como ingleses, eram, na verdade, escoceses.
Sem eles, a literatura inglesa não poderia contar com Sir Walter Scott (1771-1832), autor de “Ivanhoé”; Robert Louis Stevenson (1850-1894), de “A Ilha do Tesouro” e “O Médico e o Monstro”; Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), criador de Sherlock Holmes; e John Buchan (1875-1940), que escreveu “Os 39 Degraus”. Mais importante: sem o escocês rei Jaime (1566-1625), soberano dos dois países, não teríamos a Bíblia moderna, cuja tradução ele produziu.
Adam Smith (1723-1790), o pai da economia, era escocês. James Boswell (1740-1795), o sistematizador das biografias, idem. E Alexander Fleming (1881-1955), a quem devemos a penicilina, ibidem. Só isso já seria demais. Mas os escoceses inventaram também o telefone, a capa de chuva, a bicicleta, o selo com cola para lamber, o caleidoscópio, o radar, a televisão e a Scotland Yard.
De onde tirei essas informações? De um “Almanaque Capivarol”, claro.