O dia em que encontrei o Leminski no Café dos Estudantes. Não sei se ainda existe com este nome. É um café que fica praticamente atrás do lado esquerdo do Teatro Guaíra em Curitiba. Acho que era um sábado à tarde, de repente esbarro com o Leminski nesse local. Já tínhamos trabalhado juntos no musical Alles Plastik em 1985. Eu acabava de chegar com um novo violão, um Takamini E-90, que para mim era o máximo naquele momento. Enfim, Leminski pediu para ver o instrumento. Ali mesmo na calçada sem delongas abri o estojo novinho e tirei o dito cujo. Leminski com aquele jeitão amistoso e cordial dedilhou alguns acordes ao violão e sentenciou: “este violão ainda não tem alma, vai levar um tempo para que ele possua um espírito. Precisa tocar muito nele”. Rimos e saí dali pensando no assunto
O Poeta tocava as coisas com a Alma dele e sabia se tinha alguém do outro lado ou não. Neste mesmo dia me convidou para beber um chope e disse que não bebia, pois passava mal. Então mais uma vez o Tio Lema sentenciou: “Você tem que deixar uma jarra de chá de boldo na geladeira de plantão, toda vez que beber demais acrescenta o chá de boldo”. Alma e chá de boldo! Leminski era poesia 24 horas por dia!
Revista Ideias/nº 154/Travessa dos Editores