Ruy Castro – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO – A morte de Hugh Hefner, proprietário da “Playboy”, e de Si Newhouse, da “New Yorker”, “Vanity Fair” e “Vogue”, coincide com a suposta agonia de um produto por cuja glória eles foram grandemente responsáveis no século passado: as revistas impressas. Jann Wenner está tentando vender a “Rolling Stone”. Outros conglomerados americanos, como a Time e a Hearst, também registraram prejuízo nos últimos balanços.
Quem passa pelas bancas de revistas nos aeroportos internacionais não entende como esse setor pode estar em crise. De fato, sem abrir essas revistas e folheá-las uma a uma é difícil perceber que seus editores estão lutando para fazer com menos as maravilhas que gordos orçamentos lhes permitiam até há pouco.
Em 50 anos de imprensa, trabalhei em grandes revistas. Em 1968, “Diners”, uma publicação mensal dirigida por Paulo Francis e exclusiva dos sócios do cartão, pagava por artigo dez vezes mais que qualquer revista comercial. Até 1975, “Manchete” ainda mantinha Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino como cronistas. E, nos anos 80, a “Playboy” brasileira tinha bala para estampar qualquer mulher com que sonhasse. As tiragens se contavam então às centenas de milhares, com 40% de páginas pagas de publicidade.
Ainda não está claro o que será das revistas impressas. Neste momento, elas estão sob o ataque dos veículos digitais, muito mais ágeis. Mas estes ainda não as superaram em compromisso jornalístico, excelência do texto e magnificência gráfica.
Alguém já arriscou que, um dia, as revistas se juntarão ao universo dos objetos que não precisam mais existir, mas continuarão a ser fabricados porque são bonitos, chiques e sempre haverá quem os ame. Como os discos de vinil, os relógios de pulso, o filme fotográfico, as canetas-tinteiro e, pode crer, os pianos.