André Mendonça, terrivelmente servil

Ex-advogado-geral da União, André Mendonça tomou posse como ministro da Justiça e da Segurança Pública em 29 de abril de 2020, depois que Sergio Moro deixou o cargo acusando Jair Bolsonaro de interferir no comando da Polícia Federal.

Mendonça assumiu o comando da pasta no mesmo dia em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da PF.

Como ministro, fez exatamente aquilo que Bolsonaro cobrou na famosa reunião ministerial de 22 de abril: pôs-se a defender a todo o custo o governo e o presidente.

Em apenas dois meses, tomou ao menos três medidas polêmicas.

Em julho, pediu à Polícia Federal a abertura de investigação para averiguar se o colunista Hélio Schwartsman infringiu a Lei de Segurança Nacional ao escrever o artigo opinativo “Por que torço para que Bolsonaro morra”.

Também solicitou outro inquérito para apurar uma charge que associa o presidente ao nazismo, com base na mesma legislação usada pela ditadura militar.

E apresentou pedido de habeas corpus em favor do então ministro Abraham Weintraub, da Educação, para evitar que ele tivesse de prestar depoimento ao STF no âmbito do inquérito das fake news.

Weintraub havia dito que era preciso colocar “vagabundos na cadeiacomeçando pelo STF”.

Mendonça também trocou toda equipe de Moro, oriunda da Lava Jato. A última a deixar a pasta foi a delegada Erika Marena da diretoria do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional.

Para blindar o chefe das críticas em relação ao aumento do preço do arroz, o ministro notificou  representantes de supermercados e determinou abertura de investigação, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor.

Mendonça também virou alvo de denúncias envolvendo o monitoramento de um grupo de 579 servidores federais e estaduais, entre professores universitários e policiais, como participantes de movimentos antifascistas.

A produção de um dossiê com nomes, endereços em redes sociais e até fotografias coube à Secretaria de Operações Integradas (Seopi), uma das cinco secretarias subordinadas ao ministro. No julgamento do caso pelo Supremo, Mendonça alegou que o relatório havia sido encomendado antes de assumir, coincidentemente no mesmo dia da demissão de Moro.

O ministro, ex-assessor de Dias Toffoli e a quem dedicou um livro, livrou-se de um processo, mas teve que demitir um fiel auxiliar, o coronel Gilson Liborio.

André Mendonça também virou figura fácil nas lives de Jair Bolsonaro, que chegou a gravar um programa ao lado do superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, o delegado que ele queria nomear para o Rio de Janeiro.

No fim do ano, André Mendonça e Sergio Moro bateram boca no Twitter, depois que o ex-juiz criticou Bolsonaro sobre a falta de uma vacina contra a Covid.

Assim como na ocasião da frase “Prezada, não estou à venda”, Moro voltou aos TTs do Twitter ao questionar: “Tem presidente em Brasília?.

Mendonça tomou as dores do chefe. “Tem legitimidade para cobrar algo?”, perguntou a Moro em outro tuíte. O ex-ministro respondeu: “O senhor nem teve autonomia de escolher o diretor da PF ou de defender a execução da pena da condenação em segunda instância (mudou de ideia?).

O ministro da Justiça voltou à carga: “Meu diretor da PF tem resultados muito melhores que a anterior.”

E sem se dar por satisfeito, passou os dias tuitando sobre ‘seus feitos’ no MJSP e tentando justificar o fim da Lava Jato no governo Bolsonaro. Mendonça, como se sabe, está de olho na próxima vaga do Supremo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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