Dá na mesma. Villon, Baudelaire, Leminski, Bukowski et caterva. Os reflexos ainda estão nas janelas, nos blogues, nos bares, nos livros. Aquela azia, a sede imensa logo de manhã, a bexiga implorando perdão, a cabeça batendo estaca, o sol ardendo nos olhos. Alma na mesa. Bar fedido. As palavras tontas e tão loucas jorrando. Litros de vodka, rum, cachaça, uísque, gim pelo ralo. Cigarro, cigarro, pigarro, tosse, catarro. Barba, cabelão, inchaço, podridão. Poemas em guardanapos. Discussões sem-fim só pelo amor à última palavra, à conceituação equivocada, aos olhos arregalados.
Sempre tive a impressão de que a palavra salvaria o mundo. Um verso perfeito, um conto magistral, o romance do século. Le mot just. A palavra, porém, nunca se esgota. Mas nos esgota. A gente vai puxando o fio da merda e ela vai ressuscitando Kerouac, Nerval, Hemingway, Cortázar, Borges, Cassady e Rimbaud. Nada de novo no frontispício. Nós, os novos, nunca! Já velhos novos e nunca. Febre nas livrarias — quem se livra? E o copo se enche e esvazia. A palavra é o pio do povo. E a festa parece que não acaba. A barca do Bukowski passou lotada, de novo. Perdi a passagem. Só de me embrenhar em mim mesmo já não acho saída, muito menos a entrada certa. Que dirá…
*Autor de Nem bobo Nem Nada, que você não leu, nem nunca vai ler, né?
Sobre Solda
Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido
não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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