Um aspecto do espetáculo que se tornou possível através da pesquisa de criptodramaturgia é o “Cânone de Occam”. Texto que reúne as 64 ocorrências deste termo ao longo da obra e suas vizinhanças (partindo da seleção de 333 caracteres em torno de cada “bip” desta mensagem código).
Occam, além da figura histórica do monge-filósofo nominalista e autor de um tratado de lógica que dá bases para a linguística moderna, é também para Leminski o monstro semiótico perturbador de contextos, avatar do elo perdido entre a apressada sensação de “nonsense” e a vertigem da polissemia infinita. Occam é o glutão faminto pelas sínteses e cozinheiro das ambiguidades da prosa – aquele que ao se mover pelas páginas faz as sílabas saltarem umas sobre as outras e as letras espirrarem para fora das frases como um abalo sísmico da linguagem – catalisador de neologismos, trocadilhos e monstroprismas semânticos.
“No Catatau, suspeito ter criado o primeiro personagem puramente semiótico, abstrato, da ficção brasileira. Occam é um monstro que habita as profundezas do Loch Ness do texto, um princípio de incerteza e erro, o “malin génie” da célebre teoria de René Descartes.
A entidade Occam (Ogum, Oxum, Egum, Ogan) não existe do “real”, é um ser puramente lógico-semiótico, monstro de zôo de Maurício interiorizado no fluxo do texto, o livro como parque de locuções, ditos, provérbios, idiomatismos, frases-feitas. O monstro não perturba apenas as palavras que lhe seguem: ele é atraído por qualquer perturbação, responsável por bruscas mudanças de sentido e temperatura informacional. Occam é o próprio espírito do texto. É um orixá azteca-iorubá encarnando num texto seiscentista.” (Paulo Leminski)
Glerm Soares
4 respostas a Aos falsos Paideumas