Se Witzel não fizer muita besteira, terá direito a cetro, manto e coroa
Nossos governantes adoram os aparatos do poder, como faixas, títulos, diplomas simbólicos de universidades e um certo tratamento imperial. Um colega de farra de Fernando Collor na Ipanema dos anos 70 foi à sua posse na Presidência em 1990. Ao chegar sua vez na fila, abraçou-o e o chamou, como sempre, de “Fernando”. Collor se desvencilhou, como se estivesse sendo abraçado por um lagarto saído do brejo, e disse: “Presidente, para você”.
Lula ficava deslumbrado ao lado de cabeças coroadas e governantes mundiais. José Sarney e Michel Temer, não se sabia por quê, tinham a ilusão de ser intelectuais, e gostavam de se perfilar na foto com intelectuais de verdade. E, faça-se justiça, Fernando Henrique Cardoso não ficou mais vaidoso na Presidência —já nasceu com toda a vaidade que seus próximos conseguiam aturar.
Já o imperador D. Pedro 2º nunca foi visto de coroa e só usava a faixa de monarca quando o protocolo exigia. Sabia muito bem quem era. Os primeiros presidentes da República também dispensaram a faixa. Quem a adotou —e por cima da farda, que usou em cada dia de governo— foi o marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). Daí, a faixa se tornou parte da foto oficial e até os ditadores militares ousaram ostentá-la.
No futebol do passado, os clubes campeões posavam marcialmente no gramado, com todo mundo de faixa. Isso acabou —hoje, os jogadores apenas se jogam uns sobre os outros. E não acompanho os concursos de Miss Brasil há mais de 50 anos, donde não sei se as misses ainda usam faixa. Mas as rainhas do rádio, posso garantir que não —porque não existem mais rainhas do rádio.
Aqui no Rio, o novo governador, Wilson Witzel, mandou confeccionar uma faixa e passou os primeiros dias de mandato sem tirá-la nem para dormir. Ótimo. Se não fizer muita besteira pelos próximos quatro anos, terá direito a trono, cetro, manto de arminho e coroa.