O ateísmo nos livra da escatologia, na crença no sobrenatural que criou e irá acabar com o mundo, eventualmente nos garantindo outra vida, imaterial e eterna. Portanto, a fé carrega essa força, de dar estrutura e finalidade à vida humana. Qual a fé que resta ao ateu? Só uma, instável, insegura e sem a garantia que têm os crentes. A fé do ateu chama-se ciência, que tenta explicar o mistério da vida, ao contrário da fé do crente, a religião, que entrega pacote pronto, fechado e indevassável de crenças sobre a vida, o mundo, a origem e o destino do homem.
O crente apoia-se nos evangelhos e nos livros particulares de suas devoções, que lhe dão a segurança de seu destino. O ateu vive na corda bamba da ciência, que formula e descarta explicações sobre o universo e a vida. A ciência trabalha com seus manuais, digamos, técnicos, dirigidos aos iniciados, como as antigas religiões do ocultismo. A leitura da ciência é tão ou mesmo mais antiga quanto as religiões estabelecidas: chama-se cosmologia, a investigação e o estudo das leis do universo e da criação de suas partes, inclusa aquela em que nossa Terra está inserida.
Os escritos de cosmologia são o apoio, o consolo e a bíblia de muitos ateus, como este que não vos tenta converter. A velha Bíblia e os manuais das religiões comportam interpretações, daí o desarranjo das crenças. A cosmologia vinha bem e segura até que o telescópio James Webb, que alcança bilhões de anos no passado, passou a trazer o desarranjo da cosmologia. E com este começam a ruir as interpretações da origem do universo. E como fica o ateu, que seguia os manuais? Vê-se quase tão perdido quanto o crente que com dúvidas de sua crença tenta encontrar outra.
O ateu confia nos livros de divulgação da cosmologia, tanto quanto possível concordes em suas conclusões. Agora surgem os divulgadores que acrescentam mais um porém à dúvida: pouco vale daquilo que seus colegas físicos ensinam sobre o começo e o desenvolvimentodo universo, a começar pelo Big Bang. No entanto, o divulgador que nos engana com seu livro recém lançado, nada acrescenta, nada explica. Ou seja nos deixa como o crente acima citado. Qual a solução para este ateu decepcionado? Fazer como o crente decepcionado e procurar uma religião.
Mas a religião que não o desmoralize depois de uma vida sem fé no sobrenatural. Então, ao ateu só resta a crença na dúvida quanto à origem e o destino da vida, seja para afirmar, seja para negar. Essa religião chama-se agnosticismo. Blaise Pascal, o matemático que lançou as bases do cálculo das probabilidades, antecipou o agnosticismo no século XVII sua Aposta, sugerindo que na insegurança escatológica, o homem deve buscar Deus, ainda que não acredite, pois mesmo perdendo com a crença duvidosa, o ateu sempre sai ganhando. O resumo da Aposta, reproduzida no Google:
- se acreditar em Deus e estiver certo, terei um ganho infinito;
- se acreditar em Deus e estiver errado, terei uma perda finita;
- se não acreditar em Deus e estiver certo, terei um ganho finito;
- se não acreditar em Deus e estiver errado, terei uma perda infinita.