Arte longa, vida breve

Fiz mestrado, só pela metade, sem tese e sem título. Não aprendi muita coisa, aliás é essa a proposta de mestrado: cavoucar e descobrir tudo na cabeça do mesmo alfinete; ajuda, porque mais adiante, no doutorado, avança-se mais fundo na cabeça do alfinete. Bom pra quem gosta, ruim para quem lembra que a arte é longa e a vida, breve.

Mas fica o arrependimento de não ir até o fim: ser mestre ajuda no currículo e no cartão de visitas. Portanto, assumo a frustração de não ter chegado ao fim, que deixa o amargor do fracasso. Porém tem uma parte do mestrado que me ajuda na vida, a da metodologia, ciência sobre como estudar, aprender e repassar o aprendido, seja no curso, seja na vida.

Só aproveitei essa parte, que no entanto virou neurose: foi a proporção no texto, mistura de simetria e congruência. Ou seja, o texto não pode se estender por dezenas de linhas em algumas partes e tornar-se telegráfico em outras; a congruência é o simples complicado, de fazer com que o pé conjumine com a cabeça sob a mediação de corpo e membros.

A metodologia do texto no mestrado é facilita a vida dos membros da banca examinadora. Na vida, o mestrado facilita a vida do leitor, qualquer um, para seduzi-lo e interessá-lo. Falei da neurose da simetria. É isso mesmo. Estou agoniado para terminar este texto sem alongá-lo e sem cair em repetições e redundâncias.

A neurose agrava-se e vira obsessão pela simetria, a de que os parágrafos tenham o mesmo número de linhas. No português torna-se tormento, porque a língua não é como o inglês, onde preponderam vocábulos de uma ou duas sílabas. Exemplo: vou encher esta tripinha dispensável pra fechar a simetria e aplacar a neurose.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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