Foto de Lina Faria.
Inexiste início de ano, embora às vezes com algum atraso, que o papa pop do inutensílio, o enormíssimo cronópio Hélio Leites, não me privilegie com sua sempre adorável visita ao Palacete do Tico-Tico. Não para desejar Boas Festas que, quase sempre já passaram (graças a Deus!), mas para os votos de muita sorte pelo ano que começa.
Não foi diferente neste 2009 que, aliás, já vai abrindo as asas sobre nós. E junto com Hélio vem o melhor dos seus bons augúrios: os pezinhos direitos que ele, minimalista, desenha em micros botões de papel. A mim, me é dada a fortuna de receber sempre uma cartela inteira do originalíssimo amuleto.
Confesso, leitor, que, supersticioso, já não consigo viver sem eles. Colo um na carteira de dinheiro; outro na porta da entrada e o restante vou oferecendo aos amigos. Assim como ganhar de presente um óleo com os passarinhos de Rogério Dias, os pezinhos direitos de Hélio Leites dão uma sorte danada.
Não há quem conteste. E por falar em Hélio Leites, impossível não registrar um dos grandes acontecimentos do final de 2008 que foi, sem erro, a publicação do álbum Pequenas grandezas. Diligente (e amoroso) trabalho empreendido por Rita de Cássia Baduy Pires, reunindo em fotos e textos o melhor do nosso lúdico e impagável Rei do Botão.
No belíssimo livro, a plurivalência do artista sob todos os ângulos, focos e vertentes posto que, se existe criador múltiplo e numeroso deste lado do planeta, este é Hélio Leites.
Da minimal escultura à performance; da poesia ao lúdico teatro através de “personagens” feitos de palitos, ao carnavalesco que arrasta literalmente, pela avenida, no desfile das escolas de samba, os seus carros alegóricos feitos de caixinhas de fósforo.
O livro reproduz o texto que escrevi para uma exposição do artista, há quase 20 anos, sob o título Os exageros do mínimo; e uma crônica de 1999. Ao lado, entre outras, das reflexões de Paulo Leminski, Domingos Pellegrini, Helena Kolody e da própria Rita Baduy, a organizadora deste álbum essencial em vários sentidos.
Quando Hélio Leites surgiu, dias desses, no portão de casa, com seu Fiat 147 amarelo, só então entendi que o filho de Dona Emília chegava de seu Pilarzinho de origem, com o indefectível boné que esconde, pasmem, senhores, um topete grisalho que já deve estar aí em meio metro.
Uma prova, ei-la!, que nem só de minimalismos vive nosso herói. Enrola tão cuidadosamente o topete dentro do boné que quando vos cumprimenta, feito uma caixinha-surpresa, salta de lá, até o peito, igual uma língua-de-sogra, o impagável topete.
O imprevisto, o susto, o riso. Hélio Leites é mais, bem mais que um botão.
Wilson Bueno (24/01/2009) O Estado do Paraná.
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