— Se a vela já estava acesa antes que a primeira vela se acendesse, onde está o Buddah neste exato momento?
— Se a vela já estava acesa antes de estar acesa, então a carpa já estava molhada antes que a água a molhasse. Antes que houvesse cortina e vento, a cortina ondulava ao vento. Antes que houvesse os olhos, olhos já viam carpas, cortinas, aquário e viam a vela acesa antes de estar acesa. E que fogo é este que queima sem queimar? O Buddah, neste momento, está dançando em torno de um fícus: tem vezes é invisível o Buddah, que celebra as Bodas de Saïs em torno do fícus; outras vezes é uma folha o Buddah e dá cinco voltas em torno do fícus. O vento não deixa a folha cair no chão, mas faz com que ela adentre a capela de Santa Ana e paire na água da pia batismal.
— Mas que lugar é este onde a vela está acesa antes de estar acesa e a carpa molhada antes de estar molhada?
— Este lugar é quando eu contemplo pura e serenamente os objetos.
(Dedico à Iara Teixeira)