As piores e as melhores do ano

1. LIVRO: O romance Ai (Travessa dos Editores), de Fábio Campana – alto e vigoroso momento da ficção brasileira no ano que ora finda. Paixão e contenção. Na poesia, Régis Bonvicino chega à maturidade com o impagável Página órfã (Martins Fontes). No ensaio, um abalo sísmico – a “reflexão-livro” do italiano Roberto Calasso, K. (Cia. das Letras), sobre Franz Kafka.

2. VIDA: Os 100 anos de Dona Canô e de Oscar Niemeyer. Nunca a vida foi tão só um sopro de quase melancólica beleza. O andar de Gisele Bündchen na peça publicitária, antológica, de uma simples sandália. Malemolência e malícia, o andar feminil, mais que feminino, acende a tarde e incendeia o dia em
Ipanema.

3. VEXAME:

A hipócrita presença do nauseabundo Renan Calheiros, ao longo de boa parte do ano, a dominar a
cena política tupiniquim. Um horror.

4. GRAÇA: O hilariante Jô Soares ao entrevistar Fernanda Montenegro no talk-show da Globo. Minúcia e charme, classe e galhofa nas respostas, entre o digno e o insano, da maior atriz brasileira. E todos os Almodóvar, novos e velhos, posto que o “Cineasta de La Mancha” é graça o ano inteiro. As diatribes do inquieto Matheus, 4 anos, filho do poeta Fernando José Karl, filmadas no celular. O engenho e arte de Dante Mendonça, graça contra a des-graça todo o ano.

5. HUMILHAÇÃO: O brutal assassinato, no Rio de Janeiro, do menino João Hélio, 6 anos, que, preso ao cinto de segurança, foi arrastado sadicamente pelos bandidos num carro em fuga. No mesmo nível, a tortura e morte, em Curitiba, de Bruno, 18 anos, filho de nosso colega, o jornalista Vinícius Coelho, por seguranças da

Centronic, encharcados das cem vezes em que assistiram ao filme Tropa de elite. Um crime inominável.

6. INFOSHOW: Disparado, o blog Solda Cáustico (www.cartunistasolda.blogspot.com), do multitalento de Solda, um dos nossos mais competentes disturbadores da invariável pasmaceira da tribo. Na mesma área a elegância erudita de Almir Feijó (www.descriticas.blogspot.com) e o traço do genial Miran (www.miran.blogspot.com) na tela do computador. Desde São Paulo, o site Germina (www.germinaliteratura.com.br), puro engenho, sob a visada poética de Silvana Guimarães. E, por último, mas não menos importante, a onipresença do maior site brasileiro de cultura, o concorrido Trópico, do UOL (www.uol.com.br/-tropico).

7. TELEVISÃO: O show de toda quarta-feira, no GNT, das meninas de Saia Justa. A vida dos cinegrafistas na série de programas do National Geographic. Na Globo News, correção e sobriedade do âncora do Jornal das Dez, André Trigueiro. Na TV aberta, muita coisa boa, mas, a destacar, a transmissão, toda quarta-feira, do

Brasileirão, na Globo.

8. LUTO:

O fim de sete gigantes: Ingmar Bergman, Antonioni, Marcel Marceau, Pavarotti, Maurice Béjart, Paulo Autran e
Dona Maria Aparecida Bueno, a Cida, minha mãe.

Wilson Bueno [30/12/2007]O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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