As vivandeiras

O Presidento e a Bela, Recatada e do Lar. © Myskiciewicz

Michel Temer envolveu o Exército no problema dos presídios. Mas só do lado de fora; dentro, a polícia militar e os agentes carcerários. Como o morticínio acontece no interior das prisões, em todos os Estados, o Exército interviria para evitar fugas ou prender os fugitivos. Em outras palavras, o Exército volta ao que fazia no Império: caçar escravos fugidos, do que se afastou com a autoridade moral conquistada na Guerra do Paraguai.

Curioso que as vivandeiras de sempre ainda não levantaram o aspecto simbólico da participação do Exército em questão não só administrativa como exclusivamente civil, na qual os administradores falharam rotundamente. Por administradores entenda-se políticos, com ou sem mandato, tanto no Executivo quanto no Legislativo. Falharam, não só por erros na gestão carcerária, apenas um aspecto da questão.

Falharam sobretudo por ação e omissão, como sempre na história da República. Falhas que ampliaram exponencialmente na última república, inaugurada pela constituição de 1988: inversão de prioridades de investimento, dissipação de recursos via corrupção e contratos fraudados, situações que funcionam como o grande arco que abrange todas as deficiências da  administração pública.

Mencionei as vivandeiras, imagem do insuspeito general Castello Branco, líder do golpe de 1964, ao reprovar os golpistas que – palavras dele – “rondam os bivaques a agitar os granadeiros”. Claro que a convocação do Exército revela a falência do poder civil em mais uma entre tantas áreas da ação pública. Claro que o Exército não se julga, agora e só por isso, estimulado a assumir o poder civil.

Mas para as vivandeiras, que conhecemos em todos os matizes depois que Lula-Dilma et peterva elevaram ao estado da arte a corrupção e a degeneração política, não demora o dia em que, saudosistas e imediatistas, vejam na questão dos presídios mais um argumento para a volta da ditadura militar. Afinal, se os militares controlam os criminosos nos presídios, por que não fazê-lo com os criminosos encapsulados em governos e partidos?

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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