Assim nasceu, viveu e morreu o Nicolau – I

Paulo Roberto Ferreira Motta é advogado, procurador do Estado e foi chefe de gabinete do então Secretário da Cultura René Dotti.

Na quinta-feira, o meu velho e querido amigo, muito mais querido do que velho, Célio Heitor Guimarães (que, entre outras qualidades, é bisavô do Bernardo e marido da não menos amada Cleonice), publicou sua coluna semanal no Blog do Zé Beto. O assunto era A Pulsão pela escrita, de Luiz Manfredini, biografia do saudoso e insubstituível Wilson Bueno (Jaguapitã/1949 – Curitiba/2010). Assim que li a matéria, corri aos sítios eletrônicos das boas casas do ramo procurar o livro. Nem cheiro. Pensei comigo, tenho que mandar uma mensagem para o Célio indagando onde comprar a obra. Dias depois, o Célio respondeu que tinha ganho o livro do filho Cadu (editor de rede da RPC), que o comprara nas Livrarias Curitiba. Fui atrás e devorei o livro numa só sentada.

Sem dar tempo ao tempo, o Célio no dia seguinte veio com outro artigo, Um pouco mais de Bueno. Não aguentei e mandei dois comentários que foram publicados após moderação do Zé Beto. No segundo comentário, disse que havia presenciado a reunião em que o Nicolau foi gestado e, se alguém tivesse interesse em saber da história, contaria. Mais uma vez sem dar tempo ao tempo, na mesma sexta à noite recebi um e-mail do Célio me convidando para escrever a história do nascimento do Nicolau, sob o argumento de que o Zé Beto publicaria com gosto. Aqui, vale ressaltar, o Célio quando escreve de dia é muito bom, quando escreve de noite é ótimo e na madrugada é excelente. Então, vamos lá.

Conheci o Wilson Bueno na segunda metade da década de 80 do século passado, pelo Jaques Brand (pai do deputado Goura, entre outros milhares de atributos), na finada Confeitaria Cometa, que ficava, para os mais jovens, no calçadão da Rua XV, quando a mesma era transitável ao comum dos pedestres. O Wilson Bueno na época era assessor de imprensa da então Fundação Teatro Guaíra, desde muito tempo só Teatro Guaíra, e preparava o lançamento de Bolero´s Bar (seu primeiro livro publicado) e gozava de grande prestígio no eixo Rio-São Paulo como jornalista. Aqui, mantinha uma coluna em O Estado do Paraná, que eu, como assinante, acompanhava com prazer. Tinha passado por jornais locais, como a Gazeta do Povo. No Rio de Janeiro e São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, rádios Globo e Tupi,e no SBT. Na época, estava antevendo Mar paraguayo (pra mim, sua obra prima) e falava do livro que estava sendo gestado com grande paixão. É um livro escrito em português, espanhol, portunhol e guarani.

No mesmo local, mas em data diferente, também pelo Jaques Brand, conheci o Sérgio Rubens Sóssella, colaborador do Blog do Zé Beto e do Nicolau, extraordinário poeta e, na época, juiz de direito em Assis Chateaubriand.

Fiquei vários e vários meses sem reencontrar Wilson Bueno. O reencontro se daria na casa do professor René Ariel Dotti e já chego lá.

Completado o tempo de serviço na magistratura, o Sóssella pediu aposentadoria no TJ e veio morar em Curitiba.

O Jaques Brand conheci nos bancos da Faculdade de Direito da UFPR. Já jornalista formado em Comunicação Social, Jaques resolveu estudar Direito. Na época, eu escrevia na Folha Acadêmica, órgão oficial do Centro Acadêmico Hugo Simas, uns textos contra o MEC, a Reitoria, professores desidiosos e colegas que tinham outros credos políticos. Não publicava o nome dos criticados, mas os descrevia, de modo que todos os leitores percebiam logo de quem se tratava. O Brand achava os textos mordazes e ficamos amigos. Jaques, depois de uns dois ou três anos, abandonou o curso de Direito, mas a amizade ficou desde aqueles tempos. Faz anos que não falo com ele. Antes da pandemia o vi de longe, na Praça Tiradentes. Chamei e ele não ouviu. Fui atrás, mas ele atravessou a rua. Quando fui fazer o mesmo, o sinal fechou. Como vários ônibus passaram, perdi o Jaques de vista. Não sei se ele desceu a Marechal Floriano ou a Monsenhor Celso.

No início de 1987, num meio de tarde, recebi um telefonema do Renato Andrade, já grande advogado e meu amigo, verifico hoje, há 42 anos, dizendo que o professor René Ariel Dotti queria falar comigo. Como era só subir uns andares no Edifício Nerina Caillet, na Marechal Deodoro, chamei o elevador e fui até o escritório e o professor começou uma conversa dizendo que havia aceito o convite do governador eleito Álvaro Dias para ser Secretário de Estado da Cultura. Não estava entendendo onde ele queria chegar, até que o professor disse: “Quero te convidar para ser Chefe de Gabinete. Aceita?”.Passado o susto, aceitei o convite e, desde então, passei a frequentar as reuniões para montagem da equipe e dos projetos que eram realizadas a partir do meio das tardes no escritório dele, todos os dias úteis. Nos finais de semana, geralmente domingos depois das 17 horas, os encontros eram na residência do Dotti.

Nos primeiros tempos, participavam o empresário bastante ligado à cultura Constantino Viaro (convidado para a Superintendência do Teatro Guaíra); o artista plástico Ivens Fontoura (convocado para Coordenador dos Museus do Estado) e que faleceu no último dia 30 de abril, aos 80 anos; o ator Joel de Oliveira (convidado para Diretor Administrativo do Guaíra), que integrou o grupo que fundou o Teatro de Comédia do Paraná em 1963; a jornalista Adélia Lopes (escolhida para chefiar a Assessoria de Imprensa da Secretaria da Cultura); e o Aramis Millarch (falecido em 1992), legendário jornalista cultural do Paraná, que não aceitou nenhum cargo, mas que, por sua amizade de décadas com o René Dotti, dava inúmeras sugestões de planos, projetos e nomes. Uma delas, a mais insistente por sinal, era a criação de um jornal cultural para “botar prá quebrar”. A Adélia também tinha conspirado para a criação do jornal e viria a desempenhar um papel muito importante, conforme conto à frente. Na quinta-feira, o meu velho e querido amigo, muito mais querido do que velho, Célio Heitor Guimarães (que, entre outras qualidades, é bisavô do Bernardo e marido da não menos amada Cleonice), publicou sua coluna semanal no Blog do Zé Beto. O assunto era A Pulsão pela escrita, de Luiz Manfredini, biografia do saudoso e insubstituível Wilson Bueno (Jaguapitã/1949 – Curitiba/2010). Assim que li a matéria, corri aos sítios eletrônicos das boas casas do ramo procurar o livro. Nem cheiro. Pensei comigo, tenho que mandar uma mensagem para o Célio indagando onde comprar a obra. Dias depois, o Célio respondeu que tinha ganho o livro do filho Cadu (editor de rede da RPC), que o comprara nas Livrarias Curitiba. Fui atrás e devorei o livro numa só sentada.

Sem dar tempo ao tempo, o Célio no dia seguinte veio com outro artigo, Um pouco mais de Bueno. Não aguentei e mandei dois comentários que foram publicados após moderação do Zé Beto. No segundo comentário, disse que havia presenciado a reunião em que o Nicolau foi gestado e, se alguém tivesse interesse em saber da história, contaria. Mais uma vez sem dar tempo ao tempo, na mesma sexta à noite recebi um e-mail do Célio me convidando para escrever a história do nascimento do Nicolau, sob o argumento de que o Zé Beto publicaria com gosto. Aqui, vale ressaltar, o Célio quando escreve de dia é muito bom, quando escreve de noite é ótimo e na madrugada é excelente. Então, vamos lá.

Conheci o Wilson Bueno na segunda metade da década de 80 do século passado, pelo Jaques Brand (pai do deputado Goura, entre outros milhares de atributos), na finada Confeitaria Cometa, que ficava, para os mais jovens, no calçadão da Rua XV, quando a mesma era transitável ao comum dos pedestres. O Wilson Bueno na época era assessor de imprensa da então Fundação Teatro Guaíra, desde muito tempo só Teatro Guaíra, e preparava o lançamento de Bolero´s Bar (seu primeiro livro publicado) e gozava de grande prestígio no eixo Rio-São Paulo como jornalista. Aqui, mantinha uma coluna em O Estado do Paraná, que eu, como assinante, acompanhava com prazer. Tinha passado por jornais locais, como a Gazeta do Povo. No Rio de Janeiro e São Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, rádios Globo e Tupi,e no SBT. Na época, estava antevendo Mar paraguayo (pra mim, sua obra prima) e falava do livro que estava sendo gestado com grande paixão. É um livro escrito em português, espanhol, portunhol e guarani.

No mesmo local, mas em data diferente, também pelo Jaques Brand, conheci o Sérgio Rubens Sóssella, colaborador do Blog do Zé Beto e do Nicolau, extraordinário poeta e, na época, juiz de direito em Assis Chateaubriand.

Fiquei vários e vários meses sem reencontrar Wilson Bueno. O reencontro se daria na casa do professor René Ariel Dotti e já chego lá.

Completado o tempo de serviço na magistratura, o Sóssella pediu aposentadoria no TJ e veio morar em Curitiba.

O Jaques Brand conheci nos bancos da Faculdade de Direito da UFPR. Já jornalista formado em Comunicação Social, Jaques resolveu estudar Direito. Na época, eu escrevia na Folha Acadêmica, órgão oficial do Centro Acadêmico Hugo Simas, uns textos contra o MEC, a Reitoria, professores desidiosos e colegas que tinham outros credos políticos. Não publicava o nome dos criticados, mas os descrevia, de modo que todos os leitores percebiam logo de quem se tratava. O Brand achava os textos mordazes e ficamos amigos. Jaques, depois de uns dois ou três anos, abandonou o curso de Direito, mas a amizade ficou desde aqueles tempos. Faz anos que não falo com ele. Antes da pandemia o vi de longe, na Praça Tiradentes. Chamei e ele não ouviu. Fui atrás, mas ele atravessou a rua. Quando fui fazer o mesmo, o sinal fechou. Como vários ônibus passaram, perdi o Jaques de vista. Não sei se ele desceu a Marechal Floriano ou a Monsenhor Celso.

No início de 1987, num meio de tarde, recebi um telefonema do Renato Andrade, já grande advogado e meu amigo, verifico hoje, há 42 anos, dizendo que o professor René Ariel Dotti queria falar comigo. Como era só subir uns andares no Edifício Nerina Caillet, na Marechal Deodoro, chamei o elevador e fui até o escritório e o professor começou uma conversa dizendo que havia aceito o convite do governador eleito Álvaro Dias para ser Secretário de Estado da Cultura. Não estava entendendo onde ele queria chegar, até que o professor disse: “Quero te convidar para ser Chefe de Gabinete. Aceita?”.Passado o susto, aceitei o convite e, desde então, passei a frequentar as reuniões para montagem da equipe e dos projetos que eram realizadas a partir do meio das tardes no escritório dele, todos os dias úteis. Nos finais de semana, geralmente domingos depois das 17 horas, os encontros eram na residência do Dotti.

Numa das tardes, reunião já iniciada, com número maior de pessoas convidadas, para diversos cargos, o Aramis (que dava expediente pela manhã na Assessoria de Imprensa do antigo DNIT e à tarde n`O Estado do Paraná) chegou elétrico e esbaforido, como sempre, e ficou calado o tempo inteiro. Todo mundo estranhou o silêncio dele. Terminada a reunião, com as pessoas já levantando para ir embora, Millarch disse: “René, temos que resolver logo a questão do jornal!”. O Dotti não passou recibo e falou: “Vou fazer o jornal! Já prometi! Mas você e a Adélia têm que indicar, por favor, um nome em quem a gente possa confiar a missão!”. O Aramis Millarch e a Adélia mataram a bola no peito e disseram quase ao mesmo tempo: “Wilson Bueno!”. O professor: “Domingo, lá em casa, no final da tarde, levem ele. O Constantino, o Ivens e o Paulo vão também!”. Aramis respondeu: “Temos que convidar o Nelsinho. Ele é o chefe da Assessoria de Imprensa do Teatro Guaíra e vai perder o seu braço direito. Não fica bem ele não saber em primeira mão!”. Dotti disse: “O Nelsinho é meu amigo há quarenta anos. Convide ele também!”.

Nelsinho, vim saber depois, era o saudoso e inesquecível Nélson Farias de Barros, falecido em 2005. Era um dínamo ou se preferirem um “pé de boi” para trabalhar. Chefiava a Assessoria de Imprensa do Teatro Guaíra, sempre movimentada, afinal eram três casas de espetáculos, um corpo de baile, uma orquestra sinfônica, uma escola de teatro, uma escola de balé, artistas do Brasil e de outros países, além dos locais, se apresentando, e a imprensa exigindo informações e mais informações da Assessoria. Com as exceções que vou relatar à frente, a cobertura cultural da imprensa, na época, se baseava, quase que exclusivamente, em publicar os materiais preparados pelas Assessorias de Imprensa da Secretaria da Cultura, do Teatro Guaíra e da Fundação Cultural de Curitiba. Ao mesmo tempo, Nelsinho era ghost writer da coluna do Dino Almeida que saía na Gazeta do Povo, dia sim, dia também (onde o Wilson Bueno também martelava as teclas das “pretinhas”), e ainda achava tempo para escrever, editar e produzir a revista Quatro Estações, que cobria o high society curitibano. Com o tempo, ficamos amigos e a coluna do Dino Almeida, que geralmente terminava com os parabéns aos aniversariantes do dia, trouxe, durante anos a fio, todo dia 6 de setembro, felicitações, entre outros, a este que agora escreve.

Nesta altura, depois do longo nariz de cera, creio, que já deu para entender que o Nicolau, ainda sem nome, teve como pais biológicos, o saudoso Aramis Millarch e a Adélia Lopes. Entretanto, como diz a sabedoria popular “pai é quem cria” e aí surge todo o gênio do Wilson Bueno.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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