Bardzo dobrze, Dante!

Dante Mendonça é obra de Renato Schaitza. Soube agora, ao ler A Banda Polaca, o belo trabalho que Dante dedica a Schaitza, como homenagem ao amigo “que em tempo de vacas magras correu o risco de confiar textos” a um “jornalista de traços”. Grande Renatinho! Que belo tento! Isso é o que se chama percepção! O que Renato Schaitza, que é o melhor texto do Paraná, talvez não supusesse é que Dante seria o seu sucessor.

Dante Mendonça, catarina da terra de Madre Paulina, primeira santa brasileira, é gente nossa. Da melhor qualidade. Um talento nato. Na escrita, no desenho e na criação. Da mesma dimensão de Luiz Antônio Solda e do bardo Wilson Bueno, que também abrilhantam o elenco

deste jornal.

Acompanho a trajetória de Dante há muito. Sempre com atenção e prazer. Desde quando ele, quase um menino, desembarcou no Paraná, nos idos de 1970, e, a pedido de Luiz Renato Ribas, fez umas ilustrações para a capa de Guiatur, revistinha que editávamos. Depois, juntos fizemos Gibi é Coisa Séria, livreto publicado por ocasião da Exposição Internacional das Histórias em Quadrinhos, ocorrida em Curitiba em fins de 1973, por obra do saudoso Aramis Millarch. Dante fez a diagramação e a capa da pequena edição que pouca gente viu ou dela se lembra, mas que está lá no acervo da Biblioteca do Congresso dos EUA, a pedido dos gringos.
Sorry, periferia!

Hoje, Dante Mendonça é figura indissociável de O Estado do Paraná. Como Paulo Pimentel, Mussa José Assis e Raphael Munhoz da Rocha. Continua fino no humor e no traço, mas notabiliza-se cada vez mais no texto. Algumas de suas colunas são peças antológicas, que reclamam publicação em livro, antes que se percam nos desvãos do tempo, já que página de jornal tem a perenidade de 24 horas. Uma delas, saiu numa das mais recentes sextas-feiras, sob o título
“Boa viagem, governador!”:

José Richa gostava muito de viajar para Londrina. Além do farnel de comida árabe, levava na comitiva um baralho e três bons amigos para um carteado no avião. (…) Alvaro Dias viajava a São Paulo para consultas a bases capilares. (…) Paulo Pimentel veio conhecer Curitiba e, aproveitando uma liquidação do Hermes Macedo, comprou um terno para se eleger governador. (…) Haroldo Leon Perez viajou na maionese. (…) Ney Braga só embarcava para assistir de camarote às estréias da atriz Tônia Carrero. (…) Jaime Lerner vivia num mundo sem porteiras. ‘Vou ali e já volto!’, dizia. Na manhã seguinte, telefonava de Paris. (…) No segundo mandato, quando Lerner dizia ‘Vou ali em Nova York e já volto!’, o secretariado aprontava as malas para arriscar a sorte nas roletas do Paraguai. (…) Mas o mais fascinante turista foi Bento Munhoz da Rocha Neto. Com sua bagagem cultural, (…) viajava pela história, literatura, filosofia, sociologia, na geografia de sua biblioteca”.

E naquele tempo não havia cartão corporativo.

Agora, Dante, que já nos dera Álbum de Figurinhas & Figurões, Botecário – Dicionário Internacional de Boteco, Piadas de Sacanear Atleticano/Coxa-branca, está na praça com A Banda Polaca -Humor do Imigrante no Brasil Meridional, edição Novo Século, com ilustrações de Márcia Széliga. Uma preciosidade de forma, estilo e conteúdo.

Nós, os polacos de todas as colônias, estamos em festa. Que, por tradição eslava, deve durar vários dias. E esse “nós” no início do parágrafo não é mera gentileza. No Paraná, somos todos polacos. De repente, lembrei-me que também tenho uma boa dose de sangue polonês nas veias. Meu bisavô materno chamava-se Antônio Aracheski. Foi o primeiro chofer de praça da Lapa dos meus amores. Mas, antes disso, formara nas forças do general Carneiro, no célebre episódio do Cerco da Lapa. Hoje, tem os restos mortais guardados no Pantheon dos Heroes. Além disso, passei a minha infância e parte da adolescência entre os panhes de Araucária, convivendo com as carroças enfeitadas nas missas de domingo, tomando gengibirra e comendo chleb com

banha e torresmo de porco, pierogi, kopytka e muito cuque de farofa.

Zdrowiski e pieniadze para você também, panhe Dante Miroslaw!

Célio H. Guimarães [28/10/2007]O Estado do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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