ATÉ QUE ELE surgiu, camisa e colarinho de padre, tênis desbeiçado, a mochila a tiracolo. Chegou ali à procura de velório, que finalmente encontrou, fim da busca. Ofereceu-se para falar, convite aceito pela família para não desagradar os carolas. Desandou a falar as coisas sem sentido das missas, em portunhol as mesmices eclesiais. Declarou-se refugiado venezuelano, sem ordem e lotação na Igreja local. Disse que não pedia – mas também não recusava – pagamento.
O BUDISTA, católico em outra encarnação, nariz torcido, fugiu da prédica. “Esse cara é impostor”, um de tantos golpes de ex-bolivarianos. Dinheiro no bolso, o refugiado abraçou os presentes, as mulheres com mais ardor e os dois beijos protocolares. O budista desconfiado topou com ele minutos depois do sermão, o refugiado rezador na loja de conveniência, aboletado a sorver a saborosa Devassa, garrafa de dois litros, as indispensáveis batatas chips a espicaçar a sede.