O Papai Noel do Supremo

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – Gilmar Mendes não anda de trenó, mas está distribuindo mais presentes que Papai Noel. Nesta segunda, o supremo ministro soltou Adriana Ancelmo e suspendeu um inquérito contra Beto Richa. Os dois são investigados sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

A mulher de Sérgio Cabral foi a maior felizarda do dia: vai trocar a cadeia de Benfica pelo aconchego do lar no Leblon. Ela já foi condenada a 18 anos de prisão. Enquanto o marido saqueava o Estado, torrou R$ 6,5 milhões em joias, segundo a sentença do juiz Marcelo Bretas.

Ao mandar a senhora para casa, Gilmar evocou a “proteção à maternidade” e a “dignidade da pessoa humana”. Ele acrescentou que “a condição financeira privilegiada da paciente não pode ser usada em seu desfavor”. O país tem 37 mil mulheres presas. A maioria passará o Natal longe dos filhos e sem a opção de encomendar a ceia ao Antiquarius.

O governador do Paraná também não pode se queixar do bom velhinho. Ele foi acusado de receber dinheiro sujo de um esquema de fraudes no fisco estadual. O caso corria no Superior Tribunal de Justiça, mas Gilmar decidiu intervir a seu favor.

Para o supremo ministro, Richa foi alvo de uma “delação pouco confiável” e não havia “justa causa” para investigá-lo. O tucano ainda responde a inquérito na Lava Jato, sob suspeita de receber propinas da Odebrecht. A esta altura, já deve ter pendurado mais um sapatinho na janela.

Outros quatro políticos terão uma noite feliz graças a Gilmar. Nesta segunda, ele deu o voto decisivo para arquivar denúncias contra o senador Benedito de Lira e os deputados Arthur Lira, Dudu da Fonte e José Guimarães. Todos eram acusados de corrupção. Agora vão comer castanhas sem se preocupar com a Justiça.

Faltam seis dias para o Natal. Se os delatados organizarem a fila direitinho, o Papai Noel do Supremo ainda pode descer da chaminé com um saco cheio de habeas corpus. Ho, ho, ho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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