Beto Richa nas mãos de Sérgio Moro

Beto Richa| © Pedro Serápio

José Pires – Brasil Limpeza

O ex-governador Beto Richa, do Paraná passou quase oito anos em relativa tranquilidade, enquanto ia pipocando denúncias graves de corrupção contra ele, com escândalos que envolviam até parentes. Nos dois mandatos consecutivos, Richa navegou em calmaria, contando com a segurança do foro privilegiado do STF, onde gavetas servem de descanso eterno para processos. Mas foi só ele se desincompatibilizar do cargo que os ventos mudaram radicalmente. Obrigado agora a prestar contas à Justiça comum, um inquérito contra ele acabou de cair nas mãos de um servidor público da Justiça que realmente trabalha: o juiz Sérgio Moro. A informação é desta quinta-feira. Quem determinou o envio do inquérito contra Richa para Moro foi o ministro Og Fernandes, do STJ, acolhendo recurso do MPF.

Este inquérito vem de delação da Odebrecht, onde o político tucano aparece em planilhas do setor de propinas. Seus codinomes são “Piloto” e “Brigão”. Na planilha, ele aparece como beneficiário de repasses de mais de R$ 3 milhões. O dinheiro teria relação com obras da PR-323. A encrenca fica realmente séria com a entrada em cena de Moro, mas Richa tem outras acusações de corrupção para enfrentar, com gente do círculo íntimo do ex-governador encaminhando delação premiada.

Segundo o que dizem, foi o foro privilegiado que salvou Richa de ser envolvido diretamente no esquema desbaratado pela Operação Integração, da Lava Jato, que prendeu várias pessoas em fevereiro deste ano, no Paraná, inclusive o diretor do DER, Nelson Leal Filho, bastante ligado ao ex-governador. Ele está ainda preso na superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba. Leal Filho secretário de Obras de Richa na prefeitura de Curitiba e estava na chefia do DER desde 2013. Era responsável pela relação com as empreiteiras em obras do estado e pelas negociações com concessionárias de pedágio investigadas pela Operação Integração.

Nesta semana soube-se que o ex-diretor do DER mudou de advogado. Está agora com um escritório especializado em delações premiadas. Um dos novos advogados do antigo subordinado de Richa é Adriano Bretas, que trabalha na delação premiada de Antonio Palocci na Lava Jato. Outra delação problemática para Richa poderá ser a de Maurício Fanini, investigado na Operação Quadro Negro, esquema que desviou R$ 20 milhões da construção e de reformas de escolas estaduais. Fanini já entrou com pedido de delação premiada e está apenas aguardando a homologação.

Richa é um dos políticos brasileiros que precisa desesperadamente de um cargo parlamentar, para poder voltar às boas graças do STF, no foro privilegiado. Mas agora será exigido dele um esforço redobrado, podendo até haver mudança de planos eleitorais, trocando o Senado pela Câmara Federal, eleição bem mais fácil de resolver para quem a partir de agora terá que andar pelo Paraná com a marca de um político nas mãos de Sérgio Moro.

Outro inconveniente resultante da falta de proteção de um mandato será a agilidade das investigações. Se a camisa-de-força imposta pelo foro privilegiado, poderão ser levantadas acusações que por precaução a Polícia Federal e o MPF não traziam a público. O surgimento do nome de qualquer protegido do foro privilegiado obriga de imediato que o caso suba ao STF e lá todo mundo sabe como as coisas acabam. Ou melhor, como não acabam nunca. Na Operação Integração, por exemplo, não houve nem menção ao nome de Richa, pois isso poderia melar toda a investigação. É claro que o então governador esse impedimento para alegar que nem havia sido citado no caso. Mas agora a polícia e os promotores terão mais oportunidade de trazer seu nome para as manchetes e redes sociais, com a possibilidade do aprofundamento de investigações e talvez até do surgimento de algum novo caso. Com certeza os marqueteiros de Richa não terão falta de assunto nesta eleição.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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