Boa Kicis tocando o terror na barra pesada do bolsonarismo

Pode-se divergir de Luiz Henrique Mandetta, que como ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro impediu que o Brasil caísse em um colossal desastre sanitário. Se Bolsonaro tivesse na Saúde um subordinado totalmente submisso como este que aí está, hoje em dia estaríamos chorando não só os mortos da Covid-19, mas também milhares de vítimas de outras doenças, de mortos causados por um colapso que com certeza ocorreria se as coisas fossem feitas desde o início como Bolsonaro queria.

Mas, voltando a Mandetta, pode-se até simplesmente não gostar do ex-ministro, mas nenhum adversário poderia apontar nele falta de educação no debate. E olha que ultimamente, mesmo considerando o clima intolerante criado pelo bolsonarismo, ninguém sofreu mais ataques, de fora ou de dentro do governo, nesta questão da pandemia.

Sergio Moro certamente suportou pressões terríveis, porém o clima de confronto criado contra o ex-ministro da Justiça tem origens antigas e muito diversas, que junta desde os interesses do narcotráfico, grandes chefes do crime organizado e das táticas políticas da defesa do ex-presidiário Lula, até a estratégia atual de desmonte do espírito de Justiça que começava a criar caminhos para o Brasil melhorar e que junta atualmente esquerda com direito, lulistas e bolsonaristas, bancas milionárias de advogados do crime político e do comum, além do que tem de pior na classe política, todos batalhando firme para fazer o país andar pra trás.

A pressão contra Mandetta é mais dirigida, com o debate agressivo centrado na polêmica criada a partir da diferença de visão entre ele e o presidente Jair Bolsonaro quanto ao que se deve fazer em relação à Covid-19. Vimos Mandetta sofrer ataques terríveis, com sua posição sendo contestada muitas vezes com grosseria, como vem fazendo atualmente o próprio Bolsonaro em suas lamentáveis lives que parecem vídeos de fundamentalistas prontos a cortar com uma faca o pescoço de um refém.

É uma barra pesada que assistimos diretamente, no entanto Mandetta responde com tranquilidade, respeitando mesmo quem o questiona fora do tom do que deve ser um debate de ideias e posicionamento profissional. Este é um relato fiel aos fatos sobre a presença no debate político atual deste ex-ministro — a quem inclusive Bolsonaro deve a manutenção no cargo, pois se a Covid-19 fosse tratada no sentido que o presidente pretendia, provavelmente este ignorante já teria sido tirado do Palácio do Planalto.

Mandetta suportou até então os piores ataques sem ir além da sua reação habitual. Ele só mudou de tom agora, com um post publicado por esta inacreditável Bia Kicis, deputada direitista que consegue ultrapassar com larga vantagem até o nível habitual de grosseria dessa coisa que define-se com “bolsonarismo”. Bia Kicis tem aquele traço psicológico muito estranho e marcante em grande parte de seguidores de Bolsonaro, neste prazer cruel em ser horroroso com o próximo.

O post assinado por ela — inclusive com a marca de seu nome na imagem — é um horror até pela utilização de forma racista de um debate que nada tem a ver com a questão sanitária da Covid-19. A deputada ataca também Sergio Moro, da mesma forma que faz com Mandetta. Se a Câmara dos Deputados tivesse seriedade, ela enfrentaria um processo por quebra muito grave de decoro. Mas, ora, se houvesse esta seriedade Bolsonaro teria sido cassado há bastante tempo por seu mau comportamento como parlamentar.Republico a imagem publicada por Bia Kicis porque ela é uma perfeita ilustração do caráter dessa deputada. Mandetta respondeu em um tom fora do habitual, com uma indignação que dá para compreender, afinal a elegância pode não cair bem em certos casos. Perguntado pelo Estadão, ele respondeu o seguinte por WhatsApp: “Racista nauseabunda. Chula. Pequena. Inútil. Abjeta. RACISTA!!!!!”. Poucas vezes eu vi uma descrição tão perfeita sobre o que muitos bolsonaristas vêm fazendo nas redes sociais, com destaque, como eu disse, às performances dessa deputada, com quem Bolsonaro se identifica tanto que já declarou que é uma das mais queridas entre os que o cercam.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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