Bolek, Agente Bolek

Rogério Distéfano – Blog do Zé Beto

LECH WALESA teria sido delator dos companheiros do sindicato para a polícia do regime comunista da Polônia. A suspeita é de 1992, quando foram descobertos recibos de pagamento a um ‘Agente Bolek’, que seria nada mais nada menos que o líder do Solidariedade, o sindicato dos estaleiros de Gdansk – depois presidente da Polônia, eleito em dezembro de 1990.

Walesa refuta a acusação nos últimos vinte e cinco anos.  Armação de adversários, insiste. Recusa-se a fornecer material caligráfico para cotejo com a letra do Agente Bolek: teme os experts em falsificação. O argumento não é forte, assim como o do interesse dos inimigos políticos. A suspeita vem de 1992 e a investigação tomou força em 2016, pelo Instituto da Memória Nacional da Polônia.

O líder sindical exerceu um único mandato de presidente, derrotado na reeleição e na campanha seguinte. Manteve prestígio internacional depois da presidência, levando o Nobel da Paz e comendas internacionais. Foi decisivo no desestabilizar o governo comunista, que o condenou a um ano de prisão, em 1982, vésperas do fim da Cortina de Ferro. Ele ajudou a remover resistências contra presidentes sindicalistas.

Não consta que haja processos de corrupção contra Walesa, nem se em sua defesa levantam-se hordas de fanáticos e adoradores. Apesar do papel na vida nacional, os poloneses não devem adorar ídolos de barro, nem Walesa culpa ‘canalhices’ de acusadores pela sua queda de cabelo ou ataques de dor de dente. As suposta delações aconteceram 14 anos antes de se eleger presidente.

Depois de 1974, Walesa deixou de ser informante. Se o foi antes, a delação tem jeito de instrumento de luta sindical para afastar concorrentes. Aqui no Brasil líderes sindicais denunciavam adversários à ditadura. Aconteceu muito disso, mesmo no ABCD. Como delator, Walesa recebia 4 salários-mínimos poloneses. Não ganhou apartamento triplex, sítio, nem agenciava contratos para empreiteiras.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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