Bolsonaro desmancha no ar

A três meses da eleição, o desgoverno do ex-capitão está caindo aos pedaços. Além da crise dos combustíveis, enfrenta agora a CPI do MEC e a demissão do presidente da Caixa, acusado de assédio sexual 

O tempo fechou nesta terça-feira no Palácio do Planalto. Homem de confiança de Jair Bolsonaro, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, está sendo acusado de assédio sexual por funcionárias da instituição. De acordo com o jornal Metrópoles, que registrou depoimentos em vídeo, o caso está sendo investigado, sob sigilo, pelo Ministério Público Federal. Os relatos denunciam situações em que o executivo agiu de forma inapropriada, com toques íntimos não autorizados e convites incompatíveis com o trabalho.

Procurada pelo jornal, a Caixa informou que “não tem conhecimento das denúncias apresentadas”. E também destacou que conta com a cartilha “Promovendo um Ambiente de Trabalho Saudável”, que visa contribuir para a prevenção de casos de assédio sexual. Ao que tudo indica, Pedro Guimarães não leu a tal cartilha. Tanto assim que, em conversa tensa no palácio, Bolsonaro disse ao presidente da Caixa que as denúncias das funcionárias são “inadmissíveis”. E, segundo interlocutores, considerou insustentável a permanência do executivo à frente do banco.

A demissão de Pedro Guimarães, a ser anunciada nesta quarta, significa mais um forte abalo no desgoverno Bolsonaro. Presidente da Caixa desde o início do mandato do ex-capitão, Guimarães, que era sócio do Banco Brasil Plural, tornou-se rapidamente homem de confiança de Bolsonaro. Avançou em áreas do Banco do Brasil e transformou a Caixa em braço da propaganda da atual gestão, com abertura de agências e eventos públicos com aliados. Segundo levantamento de O Globo, Pedro Guimarães fez 97 viagens em 28 meses, passando por 147 municípios.

No mesmo dia em que perdeu seu cabo eleitoral, Bolsonaro viu a oposição formalizar pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de investigar suspeitas de corrupção no Ministério da Educação. O pedido de CPI foi apresentado com 32 assinaturas, cinco acima do necessário. Falta apenas o aval do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Mas o governo ainda faz pressão para que alguns senadores retirem a assinatura e também ameaça recorrer ao STF para barrar a CPI. Para a ministra Cármen Lúcia, do Supremo, as suspeitas de irregularidade no MEC e de interferência de Bolsonaro na investigação são graves e devem ser apuradas pela Procuradoria Geral da República.

Já desgatado com a crise dos combustíveis e a quinta troca de presidente da Petrobras, Bolsonaro também enfrenta problemas com sua base de apoio no Congresso. Entre os dirigentes do Centrão, o clima é de desânimo. Um dos envolvidos na tentativa de coordenar a campanha de reeleição lamentou-se com repórteres na segunda-feira: “O risco de derrota só aumenta”. No Congresso, comenta-se que, ao confirmar o general Braga Netto como vice de sua chapa em lugar da ex-ministra Tereza Cristina, Bolsonaro azedou de vez as relações com o Centrão.

Se a campanha oficial coleciona problemas, o desgoverno Bolsonaro também desmancha no ar. O ex-capitão está cada vez mais isolado. E aposta suas fichas numa virada de mesa a la Donald Trump, que não tem eco nos quartéis. A continuar assim, Bolsonaro em breve não conseguirá sequer que os garçons do Palácio do Planalto lhe sirvam café quente.

Octavio Costa

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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