Enquanto Bolsonaro diz que isolamento é coisa de ‘comunista’, o mundo fecha as portas para o Brasil
O Brasil já conta mais de 350 mil mortes pela Covid-19 e o total pode chegar a 500 mil entre junho e julho, na previsão de infectologistas. Diante dessa tragédia, era de esperar que os responsáveis pela saúde do povo brasileiro estivessem na linha de frente do combate à pandemia. Mas, para infelicidade geral da Nação, temos um idiota rematado ocupando a principal cadeira do Palácio do Planalto.
Além de agir como um alienista, Bolsonaro continua a investir contra os protocolos sanitários. Em twitter, ele afirmou que “uma amostra do que é o comunismo e quem são os protótipos de ditadores são aqueles que decretam proibição de cultos, toque de recolher, expropriação de imóveis, restrições a deslocamentos, etc…” E ao sair do Alvorada, disse que, se dependesse dele, o comércio estaria aberto, responsabilizando os governadores pelo desemprego.
Em média, morrem diariamente mais de 3 mil pessoas e já há quase 14 milhões de contaminados pela Covid. Mas o tresloucado Capitão Corona vê comunistas por trás de tudo e prega o fim do isolamento social, a abertura de igrejas e templos e a volta de todos às ruas. Diante de seu negacionismo, o Brasil bate recordes mundiais de contaminação e torna-se epicentro da pandemia. Como consequência do descaso oficial, vários países estão fechando suas portas para brasileiros.
Com Bolsonaro à frente, nosso País, cada vez mais, torna-se um pária internacional. Nesta terça-feira, o premier da França, Jean Castex, anunciou a suspensão por tempo indeterminado de todos os voos que tenham como origem ou destino o Brasil. “Tomamos conhecimento de que a situação está piorando e decidimos suspender todos os voos entre a França e o Brasil até segunda ordem”, disse Castex, aplaudido durante a sessão no Parlamento.
Viajantes brasileiros tinham de apresentar um exame PCR negativo para o vírus antes do embarque e no desembarque na França. Ao chegar lá, as normas sanitárias também obrigavam que os passageiros respeitassem uma quarentena de 10 dias. Mas especialistas recomendavam a suspensão dos voos. Peru, Colômbia, Portugal e a Espanha já haviam adotado esta medida. E dos países que fazem fronteira com o Brasil, apenas o Paraguai mantém-se aberto.
Alguns países, como a Austrália, sequer aceitam correspondência com origem no Brasil. Temem que cartas e pacotes estejam contaminados por variantes da Covid-19. Como precaução, decidiram fechar até mesmo a fronteira postal. Cartas de brasileiros para a Austrália, só por empresas de distribuição como Fedex, DHL e UPS, mas a um custo caríssimo. Assim, uma postagem de livros para a Rússia que sairia por R$ 200 é cotada hoje pelos Correios em R$ 1.500.
As reações podem parecer exageradas. Mas o Brasil é notícia em todo o mundo como exemplo de fracasso no combate à pandemia. O que esperar dos outros governos quando a própria Organização Mundial da Saúde adverte que o Brasil enfrenta um “surto infernal”? Na terça, o jornal Washington Post publicou reportagem sobre a crise sanitária e política que ameaça Bolsonaro. Segundo o Post, enquanto “o Brasil navega nos dias mais mortais de sua história, com o coronavírus matando cerca de 4.200 pessoa por dia, cresce o movimento para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pela carnificina que ele pouco fez para mitigar”.
Famoso pelo caso Watergate, o jornal ressalva que o “político culpado por uma pluralidade de brasileiros pelo pior desastre humanitário da história nacional está protegido – por aliados conservadores que ganharam maior poder no Congresso Nacional, pelo apoio duradouro de 30% dos eleitores e por um casulo de mídia digital de direita que permitiu sua ascensão ao poder e agora é essencial para sua manutenção”.
É verdade. Bolsonaro ainda tem base de apoio. E conta com ela para transformar em pizza a CPI da Pandemia, que foi aberta no Senado por determinação do Supremo Tribunal Federal. Graças à adesão dócil e passiva dos parlamentares do Centrão, também consegue fazer letra morta das dezenas de pedidos de impeachment que estão na gaveta da presidência da Câmara. “Não existiam condições para tal decisão política no ano passado e, do meu ponto de vista, ainda não existem”, disse ao Post o deputado Rodrigo Maia, que se destacou por arquivar pedidos de impeachment.
As CPIs costumam ter desfecho imprevisível. Muitas não resultaram em nada. Mas algumas delas deram dor de cabeça, como a dos Anões do Orçamento. O temor de Bolsonaro é claro. Dele e dos generais que sustentam seu governo. Ao tomar posse no Ministério da Defesa, o general Braga Netto fez coro com seu chefe e criticou o Supremo por “interferir no Legislativo”. De forma indireta, os dois dão a entender que podem transformar o Brasil num pastiche de ditadura, nos igualando ao que está acontecendo em Mianmar, a antiga Birmânia.
À escalada da Covid-19 somam-se, portanto, os ataques de Bolsonaro ao Judiciário e à ordem democrática. E o mundo civilizado, com toda razão, fecha suas portas para o Brasil.