Na segunda-feira, foi o dia de Bolsonaro colocar o coturno no Legislativo. Colocou o inexpressivo Rodrigo Pacheco na presidência do Senado Federal e do Congresso Nacional, com o apoio do PT, PDT, Rede e parte do MDB, destacadas siglas da “oposição”. Na fala inicial, o senador de primeiro mandato, defendeu a “pacificação das relações políticas e institucionais”, sem especificar quais seriam essas relações, e reafirmou o compromisso com a independência do Senado, em nome da governabilidade. Quer dizer, sob o comando do presidente da República.
Para a presidência da Câmara dos Deputados, mais do que nunca despida de talentos, o capitão Messias escalou um legítimo representante da oligarquia alagoana, Arthur Lira, pessoalmente afinado com a conduta da família bolsonariana: é suspeito de envolvimento em desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa de Alagoas, entre 2001 e 2007. Quer dizer, “gente nossa”.
De acordo com a Procuradoria Geral da República, então comandada por Raquel Dodge, a fraude se dava, como de costume, a partir da apropriação de parte dos salários de funcionários e também da inclusão de falsos funcionários na folha de pagamento da Assembleia. Eles repassavam o dinheiro destinado ao pagamento de salários aos deputados ou a pessoas indicadas pelos parlamentares. Segundo a denúncia, de 2001 a 2007, Arthur Lira movimentou em sua conta mais de R$ 9,5 milhões.
Durante o cumprimento dos mandados judiciais, teria sido apreendida em uma das residências de Lira uma planilha denominada de “cheques em aberto a vencer” no total de mais de R$ 1,3 milhão. Documentos indicam que o desvio de recurso em questão resultava em uma renda mensal de R$ 500 mil ao parlamentar.
Segundo a denúncia, “o grupo criminoso liderado por Lira também utilizava empresas de terceiros para simular negociações jurídicas/financeiras, buscando operacionalizar o desvio de recursos e ocultar a origem ilícita”.
Infelizmente, quando da denúncia, em 2018, o crime de formação de quadrilha já tinha prescrito pela demora do andamento judicial. Por isso, o então deputado foi apenas denunciado pelos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
A Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Alagoas condenou Lira por improbidade administrativa. A parte criminal chegou a ser enviada ao Supremo Tribunal Federal, mas foi reencaminhada de volta ao TJ de Alagoas por causa da mudança de entendimento sobre o foro. No momento, o caso segue em andamento, em sigilo, claro.
Enquanto isso, sob a proteção de Jair Messias, Arthur Lira ocupa a chefia da Câmara Federal, a quem cabe receber e processar pedidos de impeachment do presidente. Quer dizer, sem risco de sobressaltos.
Jair Bolsonaro – como registrou a Folha de S. Paulo em editorial – “consumou o estelionato eleitoral ao despir-se dos últimos fiapos do disfarce de vingador da política que vestiu em 2018. Enganou apenas quem não acompanhou seus sete mandatos como deputado federal especializado na arraia-miúda das transações parlamentares”.
E assim, de puxadinho em puxadinho, o capitão vai tocando o seu trolinho ladeira abaixo, agora com três únicas preocupações na cabeça: manter-se no poder, afastar os filhos da cadeia e reeleger-se em 2022.
Em decomposição, o Brasil aguenta? Até quando?