Bolsonaro e PT: um pesadelo eleitoral para o Brasil

O ex-ministro José Dirceu, deputado cassado e condenado em segunda instância por corrupção, foi solto há alguns meses por Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. E desde então vem tendo uma intensa atividade política. Não dá para saber com exatidão qual é o seu papel nos bastidores, mas pelo que vem a público é possível notar que ele anda pegando pesado, errando na dose e favorecendo mais o adversário do que ajudando no sucesso do plano de eleger Fernando Haddad. Dirceu não faz isso por mal. A vitória de Haddad vai ampliar o espaço de manobra para livrá-lo de voltar para a cadeia e lá ficar por muitos anos. O mau jeito pode ser apenas efeito de queda de imunidade de um velho militante. Isso é nada mais nada menos que esquerdismo, aquela doença do comunismo diagnosticada no início do século passado por Lenin.

O efeito adverso das pregações de Dirceu pode ser avaliado pela satisfação dos próprios adversários. Eles mesmos cuidam de compartilhar os vídeos do antigo dirigente do PT. Os seguidores de Jair Bolsonaro estão na linha de frente da distribuição das falas do político que Lula dizia ser o capitão de sua equipe, como ministro da Casa Civil em seu governo. Assisti a um desses vídeos abilolados, feito para o site Nocaute. É um manifesto comunista para os tempos atuais, com a apresentação de propostas radicais que servem para colocar medo nas pessoas, estimulando o clima que interessa à direita e à extrema-direita. É uma tática curiosa, pois é exatamente o que a direita quer. Não é à toa que o pessoal do Bolsonaro vem espalhando o material com todo gosto. Não estou acusando de nada o velho amigo do Lula, mas parece coisa de cabo Anselmo.

Dirceu define o momento que vivemos de “a hora da resistência”. No vídeo, ele propõe uma aliança da esquerda para ganhar a eleição e fazer “uma mudança radical no país”. Fala em fazer uma reforma tributária que atinja as propriedades e os mais ricos, além de deter o controle dos meios de comunicação e fazer uma reforma de Estado. Dirceu acredita que a esquerda não teria governabilidade com “este Congresso e com este Judiciário”, o que evidentemente aponta para medidas de contenção e mudanças vindas de cima para essas duas instituições. Cabe lembrar que a última vez que Dirceu e seus companheiros se incomodaram com a necessidade de governar respeitando democraticamente o Congresso, o PT criou o mensalão. Se tiverem uma outra chance é claro que vão tomar medidas mais drásticas.

Sei muito bem que interessa ao PT acirrar os ânimos da população e criar um clima de desestabilização política. É uma velha tática petista essa cultura da cizânia, do conflito entre brasileiros, na divisão insensata e improdutiva, que aliás foi em grande parte o que nos levou ao drama atual. Fazem isso para ganhar eleição, sem se importarem que o país vai se afundando cada vez mais com a desunião entre brasileiros. Este Dirceu que aí está encarna demais o espírito dele próprio nos anos 1960, quando vindo de Cuba depois de estudar política e fazer treinos militares por lá, entrou clandestinamente no Brasil para organizar a luta armada. Não cumpriu a tarefa, é verdade, talvez liberado da missão por ordens vindas de fora. E para quem pensava que este Dirceu era coisa do passado, eis que ele retorna com um furor que na minha visão mais atrapalha do que ajuda Haddad a subir a rampa do Palácio do Planalto.

Para a turbinar de fato a candidatura do partido talvez fosse mais eficiente outro Dirceu, mais parecido com aquele da “Carta aos brasileiros”, da primeira eleição de Lula. Este PT que ele vem trazendo é o de antes, quando Lula dava medo ao país e perdia uma eleição atrás da outra. Por isso é que vem tendo uma audiência imensa, com aplausos unânimes de um adversário que a gente sabe que os petistas gostariam de enfrentar num segundo turno. Por outro lado, bolsonaristas também não querem outra coisa. E aí é que está uma grande complicação, pois se o Brasil tiver que encarar uma escolha entre esses dois lamentáveis extremos, o mais provavel é que ocorra uma tremenda invertida no #Elenão, que pode virar um #ContraoPTatéele.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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