Bolsonaro, o político preferido da esquerda

Jair Bolsonaro – © Myskiciewicz

Que a esquerda é burra o país inteiro já sabe, até pelas consequências terríveis dessa burrice na vida de cada um. Mas a direita brasileira também é burra. Bem mais estúpida até que a esquerda, afinal esta pelo menos soube aproveitar a oportunidade para subir ao poder e por lá ficou 13 anos. E a direita nem sabe aproveitar oportunidades, o que dá para perceber neste clima com condições psicológicas perfeitas para o sucesso de um candidato de direita à presidência da República.

Já vi passar cavalo encilhado na política brasileira, mas igual ao que se oferece à direita é coisa rara. E o que faz a direita? Coloca em cima do cavalo um capitão reformado do Exército que senta ao contrário na sela e ainda carca as esporas no pobre do bicho. É claro que estou falando do deputado Jair Bolsonaro, que nas suas andanças pelo país esteve no Paraná, passando por Londrina, onde juntou os adeptos de sempre, com aquele jeito bem dele, na verdade mais de sargentão botando ordem nos recrutas.

Poucas vezes se viu um erro político do tamanho desse, da direita brasileira, permitindo e até estimulando que sua liderança seja ocupada por um sujeito como Bolsonaro. Gradativamente, o deputado vem pegando os temas importantes do país, um após outro, dando a impressão de que a direita não tem capacidade de enfrentar seriamente os problemas nacionais e nem mesmo tem equilíbrio para debater coisa alguma. Seus argumentos são grosseiros. Apresente um problema ao Bolsonaro e certamente ele vai xingar o problema. Isso se ele não xingar você. Em cada fala desse deputado transparece, brutalmente, o desconhecimento do que há de mais básico em cada assunto. E politicamente, ele não consegue obter posição favorável nem nas discussões mais simples.

Que um sujeito desses seja hoje na política brasileira a expressão do pensamento de direita demonstra que essa mesma direita perdeu a capacidade de pensar. E olha que tempos atrás, que nem estão tão longe assim, tivemos no país grandes pensadores de direita. Mas, voltando ao Bolsonaro, alguém pode até dizer que, como ele afunda ainda mais a direita nesse buraco cavado por ela mesma, então é muito bom para o país. Mas não é assim. Além de ser essencial para a cultura do nosso país que dentro de parâmetros democráticos tenhamos uma diversidade política, na qual o pensamento de direita seja atuante, o estrago feito no Brasil por um tipo como Bolsonaro tem também o resultado adverso de fortalecer a posição da esquerda em assuntos essenciais na nossa vida, em alguns casos já quase no ponto do irremediável.

A forma de Bolsonaro entrar no debate nacional desestimula de imediato o tratamento racional de qualquer problema. Até aí, poderia ser um problema pessoal dele, mas isso se a sua influência neste debate não prejudicasse um conjunto de forças políticas, inclusive de gente bem distante da direita, mas que também se distancia da nossa desastrada e mal intencionada esquerda. A base da tragédia brasileira está toda estruturada em políticas públicas nas quais a esquerda estabeleceu um fortíssimo domínio, com seu trabalho político de bastidores que já vem de anos, com um domínio cultural e técnico em universidades, escolas, empresas estatais e também nas privadas, no âmbito da Justiça, em parte da imprensa, nos sindicatos e outras entidades representativas, tudo isso muitas vezes em sincronia com o aparelhamento da máquina pública em todas as suas instâncias.

Quando alguém como Bolsonaro opina sobre alguma questão nacional, estará sempre batendo de frente com essa estrutura de esquerda que vem conduzindo e alargando a tragédia brasileira a partir de políticas sob seu domínio. A superficialidade do deputado para tratar qualquer tema e também sua tremenda grosseria pessoal acaba resultando no fortalecimento de uma posição adversa e muito perigosa, dessa esquerda que apesar da perda do cargo de presidente da República, mantém ainda um poder subterrâneo. Quem vê em Bolsonaro capacidade para mudar alguma coisa no país está apostando em comando errado. Com lideranças desse tipo, o grito mais forte que pode vir é o de “esquerda, volver”.

Brasil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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