O senador Jorge Kajuru divulgou em suas redes sociais uma conversa telefônica na qual o presidente Jair Bolsonaro cobra a inclusão de prefeitos e governadores no escopo da CPI da Covid. Qualquer CPI precisa de fato determinado. Ampliar o foco costuma ser uma tática para não se investigar nada.
Mas, em entrevista ao Papo Antagonista na sexta-feira, Kajuru disse claramente ser contra a ampliação da investigação. Segundo ele, uma CPI com duração de 90 dias não teria tempo para investigar também prefeitos e governadores — e que isso, fundamentalmente, seria responsabilidade de assembleias legislativas e câmaras municipais.
Na conversa com Bolsonaro, porém, Kajuru se mostra favorável à ideia, animando o presidente, que cobra dele, sem pudores, pressão no Supremo para a abertura de impeachment de ministros, começando por Alexandre de Moraes — alvo recente de um abaixo-assinado de bolsonaristas.
“CPI ampla e investigar ministros do Supremo. Ponto final (…) Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment também”, diz Bolsonaro na conversa. Kajuru, que defendeu a CPI da Lava Toga abafada por Bolsonaro, responde: “Peticionei ontem.”
O presidente, então, comemora: “Parabéns para você. Você foi dez. Sabe o que é que vai acontecer? Não tem CPI e não tem investigação de ninguém do Supremo.” A princípio, pode parecer que Bolsonaro queria apenas pressionar os ministros a enterrar a CPI. Mas, em seguida, ele se diz “a favor de botar tudo para frente”. Ou seja, tanto a CPI como o impeachment.
Ministros ouvidos há pouco por O Antagonista avaliaram o caso como uma “tentativa de intimidação bastante grave” do presidente da República ao Supremo e que ele teria incorrido em crime de responsabilidade.
Interlocutores de Arthur Lira disseram ainda que a sensação é a de que o presidente “riscou um fósforo num ambiente saturado de combustível”. Essas mesmas fontes esperam uma possível reação em cadeia, com o Supremo ameaçando retomar o inquérito de Lira, caso o presidente da Câmara não tire da gaveta as dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro.
Se há poucos dias o ministro Marco Aurélio Mello defendia sozinho que a Câmara tinha “que tocar” a análise dos pedidos de impeachment, o coro agora tende a engrossar.