#BolsonaroCriticaEu

Tudo o que ele critica ganha projeção e acaba enaltecido

Jair Bolsonaro é um Mick Jagger às avessas. O inglês virou sinônimo de pé-frio desde a Copa da África do Sul ao apoiar sempre os times que saíram perdedores de suas disputas. O presidente brasileiro, ao contrário, parece cada vez mais com o dom de dar sorte, mas aos seus desafetos ou a gente que ele só menospreza. A cada treta um flash e (mais) sucesso.

Nem 24 horas depois de ter chamado a ativista sueca Greta Thunberg de pirralha, num óbvio desdém por sua projeção nas causas ambientais, a garota de 16 anos faturou o prêmio de Personalidade do Ano da revista Time, numa lista de 57 pessoas em que o próprio Bolsonaro era citado.

Na semana passada, o presidente ironizou a recomendação de leitura do livro “Valsa Brasileira”, da economista Laura Carvalho, feita pelo ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán. Laura integrou a equipe do então candidato à Presidência Guilherme Boulos, do PSOL. Após o tuíte debochado, os exemplares se esgotaram, e o livro vai ganhar reimpressão.

Na época em que atacou a TV Globo por causa de reportagens sobre o caso Marielle, o Jornal Nacional teve a melhor audiência em meses, mostrando que boicote de presidente e nada é a mesma coisa. Bolsonaro também tem investido contra a Folha, diz que não lê o jornal (alguém acredita que ele leia alguma coisa?) e que não compra de seus anunciantes. O que acontece? Campanha de assinaturas voluntária nas redes sociais.

Ao longo deste ano, sobrou para jornalistas, que ganharam prêmios, artistas, que foram aclamados, ONGs, órgãos de fiscalização, entidades internacionais, chefes de estado. Tudo o que ele critica ganha projeção e acaba enaltecido como o oposto do que ele é. Ser esculhambado pelo presidente da República é hoje motivo de júbilo, selo de qualidade. Qualidades que ele mesmo não tem.

Nessa toada, #BolsonaroCriticaEu vai parar nos trending topics.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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