Bombas, tiros, socos? Nunca. Só palavras.

Bom dia.

Sugiro entrevista com Marco Feliciano, empregado nosso do tipo deputado, na BBC News Brasil. Acho que ela ajuda a pensar as possíveis razões de a sede do Porta dos Fundos ter sofrido um ataque terrorista. Marco alega ter sido vítima do que ele chama “esquerdas” e avisa que “vamos compartilhar essa guerra” pelos próximos 20 anos. Marco chama de guerra o que deveria ser a política e usa o verbo compartilhar.

Acho revelador os termos que ele emprega. Guerra não se compartilha!; se luta. Compartilhar é dividir, repartir, comungar – uma ideia de união. Ao dizer que “compartilharemos uma guerra”, o nosso empregado expõe sua empatia com a guerra, e não com seus adversários.

A guerra, ele a quer dividir, em êxtase de prazer macabro, com os seus afins. Diz que compartilhará conosco mas o que diz por dentro do que disse é que compartilhará com os dele. E ainda faz ameaça dissimulada de esperança: “espero que não vá para vias de fato”. Mas as vias de fato, como o ataque ao Porta, é tudo o que ele espera e para o quê ele convida seus iguais. E Marco se anuncia uma vítima da história e constrói a narrativa do rancor que autoriza a guerra q lhe dá prazer porque lhe traz vingança; vingança contra as elites que os desprezaram e que eles agora querem ser.

Tudo q o projeto messiânico deseja é guerrear. Eles estão armados, fundando “soldados de cristo” com lógica militar, resgatando ídolos torturadores, elegendo-se deputados anti-democratas. Quem ainda pensa que votando em Messias votou apenas contra o PT dos seus pesadelos, está a se enganar por medo de enfrentar o que fez por força da fobia de pobre da qual sofre.

Eu não vi o Jesus gay do Porta. Mas não se justifica por razão alguma que a palavra – por mais ofensiva que a se considere – seja rebatida com uma bomba.

A civilidade impõe a palavra como a única arma admitida no debate das ideias. Palavras podem magoar, ofender, agredir; mas não tiram a vida. Bombas matam.

Quantas ofensas têm sido ditas a nós artistas por messias, felicianos, ventraubes e cia? E nós, o que temos feito em resposta? Piadas, músicas, teatro, coros de carnaval, palavras de ordem, quando muito. Bombas, tiros, socos? Nunca. Só palavras.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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