Borges

Borges, by Fernandes, o moço de Avaré.

eu

Uma caveira, o coração secreto,
Os caminhos de sangue que não vejo,
Os túneis de um sonho, esse Proteu,
As vísceras, a nuca, o esqueleto.
Tudo isso sou eu. Incrivelmente
Sou também a memória de uma espada
E a de um solitário sol poente
Que se dispersa em ouro, em sombra, em nada.
Sou o que vê as proas lá do porto;
Sou os contados livros, as contadas
Gravuras pelo tempo fatigadas;
Sou o que inveja aquele que está morto.
Mais raro é ser o homem que entrelaça
Palavras num dos quartos de uma casa.

Jorge Luís Borges (1899-1986), do recém-lançado “poesias” (Cia. das Letras) que reúne num só volume, de quase 700 págs., em edição bilíngüe, os últimos sete livros de poemas produzidos por Borges, de 1969 a 1985. Empreendimento tradutório da também poeta Josely Vianna Baptista e que a confirma como a mais importante tradutora do espanhol para a língua portuguesa, possivelmente de todos os tempos. Wilson Bueno.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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