Bolsonaro confia na lógica da intimidação para o 7 de Setembro

Ao unir apoiadores e militares, presidente tenta usar ameaça como arma de sobrevivência política

Se acreditasse que o caminho para ficar no poder é vencer no voto, Jair Bolsonaro não precisaria ter convocado os militares para o comício que pretende fazer no próximo 7 de Setembro. Na semana passada, o presidente anunciou que vai misturar o tradicional desfile das tropas com uma reunião de apoiadores prevista para Copacabana no feriado.

Em busca de sobrevivência política, Bolsonaro confia na lógica da intimidação. O presidente já disse mais de uma vez que seus eleitores devem dar o que ele descreve como “recado” para instituições como o STF e o TSE. Para isso, ele espera ver nas ruas os grupos mais afinados com sua retórica conspiracionista batendo continência para militares.

Bolsonaro não busca uma mera demonstração de apoio popular no 7 de Setembro. Ele parece mais interessado em fazer com que o mundo político e os tribunais acreditem que há gente disposta a usar a força ou fazer tumulto em sua defesa.

O presidente trabalha para criar a impressão de que os militares e seus seguidores mais fiéis se preparam juntos para isso. Na convenção do PL, depois de convocar os bolsonaristas para os atos do feriado, ele ofereceu uma espécie de pacto para unir os dois campos. “Nós, militares, juramos dar a vida pela pátria. Todos vocês aqui juraram dar a vida pela sua liberdade”, declarou.

O 7 de Setembro é uma das últimas armas de Bolsonaro antes do fim do mandato. Se não conseguir reverter a desvantagem que tem nas pesquisas até lá, o presidente deverá usar a ameaça de golpe para manter seus apoiadores engajados em busca de votos. Em última instância, ele pode emparedar as instituições para obter uma saída negociada do poder em condições vantajosas.

É uma jogada que tem seus riscos. Ainda que consiga levar muita gente para Copacabana, Bolsonaro precisaria manter algum nível de mobilização pelas semanas seguintes para atingir seu objetivo. Se nem isso der certo, pode ficar claro para o país que aquele é o ato de exibição de uma força que ele não tem.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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