“Alguém me aponte um motivo que eu poderia ter para matar Marielle” – a última frase lapidar de Jair Bolsonaro. Lapidar vem de pedra, das palavras escritas na pedra, como nas lápides de túmulos. Também é o verbo bíblico, de matar a pedradas. Ninguém acusou Bolsonaro de matar Marielle. Jamais. Também ninguém o acusou de autor intelectual, mandante do crime. Jamais.
Trata-se de mal entendido, derivado de seu comportamento e de suas más companhias. Marielle foi assassinada por miliciano, ex-policial militar, apoiado por outro – ela e seu motorista. Bolsonaro só andava com milicianos e gente da polícia militar do Rio. Esse povo pedia voto para ele e filhos, pescava com ele e fazia rachadinhas com ele e os filhos parlamentares.
Lembram um tal Fabrício Queiroz, que era policial militar e compadre de milicianos? Pois é, Queiroz foi íntimo de Bolsonaro e do filho Flávio, então deputado. Também do miliciano e ex-policial investigado por matar a vereadora Marielle Franco. O autor do crime morava no condomínio do então deputado Bolsonaro. Ninguém tem culpa pelos vizinhos de casa. A menos que troque afagos com eles.
Amizade é afinidade, raramente cumplicidade. Mas gera suspeita, a menos que o amigo seja falso. Não implica motivo, autoria intelectual ou indireta do crime. Nessas horas, contudo, ecoa o grito surdo nos ouvidos, inclusive dos caluniadores que acusam Bolsonaro de matar Marielle; “por que ele não disse uma palavra de solidariedade com a vítima, uma palavra de repúdio ao crime?”
O hoje presidente é um homem iletrado, ignorante, preconceituoso e protofascista. Fosse protofascista, porém letrado, lembraria a outra frase, tão lapidar quanto a sua: “o silêncio é cúmplice”. Jair Bolsonaro não matou Marielle Franco; definitivamente não. Mas pelo silência é cúmplice de quem matou. Divergências políticas à parte, como homem de Estado deveria repudiar o crime.