Como decodificar o Código Bolsonaro

Há um padrão nas acusações do presidente, já que ele comete tudo o que acusa em seus adversários

Uma comissão formada por linguistas, psicólogos, matemáticos e fãs de Tom Zé convocou a imprensa para afirmar que, enfim, o Código Bolsonaro havia sido decodificado.

“Primeiro, senhor cidadão, tentamos entender com quantos quilos de medo se faz uma tradição. Depois, com quantas mortes no peito se faz a seriedade. Com isso, senhor cidadão, criamos um algoritmo que consegue confundir para esclarecer o Código Bolsonaro“, explicou Angélica Consolação, porta-voz da comissão.

Em seguida, mostrou as evidências.

Jair Bolsonaro disse que seus adversários iam transformar o Brasil numa Venezuela. No seu governo, a inflação disparou, as interferências no Judiciário são frequentes, a presença de militares na política é norma, o autoritarismo paira no ar, as instituições são corroídas por dentro. Em outras palavras: nunca estivemos tão próximos de virar uma Venezuela.

Jair Bolsonaro acusou seus adversários de corrupção. No seu governo, surgiram as denúncias de rachadinha, as vultosas movimentações em dinheiro vivo de sua família, os cheques na conta da Michelle, a prevaricação diante das denúncias da Covaxin, o caso dos pastores no MEC, o orçamento secreto. Delegados são trocados quando uma investigação avança.

Jair Bolsonaro acusou seus adversários de ceder à velha política. No seu governo, entrou para o partido de Valdemar Costa Neto. Fechou alianças com Fernando Collor, Roberto Jefferson.

Jair Bolsonaro acusou seus adversários de abuso de autoridade. No seu governo, Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça alegando que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal.

Jair Bolsonaro acusou seus adversários de serem contra a liberdade. No seu governo, o Ministério da Defesa publicou uma nota saudando o golpe militar de 1964.

Jair Bolsonaro acusou adversários de promover política de toma lá dá cá com o centrão. No seu governo, o Ministro da Casa Civil é do centrão.

“Não precisa ser um Alan Turing para decodificar o Código Bolsonaro. Todas as suas acusações revelam uma parte de sua personalidade que ele gostaria de manter enrustida. Para perceber as intenções do presidente, basta observar quais são os temas de suas acusações”, concluiu Angélica Consolação.

Em seguida, a comissão apresentou uma pergunta: “Há tempos, Bolsonaro acusa seus adversários de fraudes nas eleições. O que ele quer dizer com isso?”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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