De cueca vermelha

E tiozinho chega a Moscou. Vestia uma cueca vermelha pra mostrar simpatia ao regime. O tradicional beijo na boca, delicada honraria dispensada a gente importante, foi substituída por uma pegadinha no mamilo, o que não é a mesma delícia. A coisa tinha sido posta assim: ou rola beijo ou rola. A frase foi dita desse jeito mesmo.

A comitiva visitante ficou no aguardo da finalização da frase que, no entender dos vermelhos, estava completa. Que falta faz Dona Síndica, pra ensinar gramática a essa gente, pensou tiozinho em voz alta. Mas aí foi carregado para o túmulo dos comunistas, tipo assim arrastado, porque ele pensava que iam tumular ele e abandonar, mas daí trouxeram uma corbelha de flores e a gente diz corbelha porque sempre tem abelha idiota que não percebe que é tudo flor morta.

Se é para homenagear morto faz lógica. Mas, o susto maior foi quando percebeu estrelas do PT, vermelhas como lontras inquietas, a drapejar nos altos. Imaginou o visitante que tinha havido eleição no Brasil enquanto ele encontrava-se fora salvando o mundo de uma guerra nuclear. Considerou que era melhor já ir se acostumando.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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