No fim de semana, ao dar uma lida rápida na edição da Veja, me chamou a atenção o artigo do cientista político Murillo de Aragão. Segundo ele, apesar do favoritismo, não se pode afirmar que Lula será o próximo presidente. Uma das razões, diz, é que Lula continua a abordar temas que afastam setores do eleitorado menos corporativistas e esquerdistas, “temas já superados e que só agradam ao seu eleitorado cativo”. Aragão ressalta que, apesar de as pesquisas espontâneas mostrarem Lula bem à frente de Bolsonaro, o ex-presidente aparece com 44% e o ex-capitão com cerca de 36% no tracking (pesquisa diária pelo telefone) de sua consultoria. Conclusão dele: Bolsonaro mantém intenção de voto relevante que pode ser turbinada por iniciativas do governo. Além disso, “Aproximadamente 25% do eleitorado ainda não escolheu em quem votar. É um espaço robusto para a ocorrência de surpresa”.
Por coincidência, também no domingo, o colunista Lauro Jardim, em O Globo, informou que os responsáveis pela campanha de Bolsonaro preveem ultrapassar Lula em junho. Por mais que a informação seja surpreendente, ele explicou que, a partir de números mais recentes de pesquisas encomendadas pelo governo, acendeu o otimismo no Palácio do Planalto. Dias antes, o jornalista destacou que os trackings eleitorais feitos por pelo menos dois institutos detectaram leve subida na intenção de votos de Bolsonaro, que continua atrás de Lula, mas agora com distância menor. A alta foi registrada nas respostas espontâneas, ou seja, quando não são oferecidas aos pesquisados uma lista de candidatos.
Nesta quarta-feira foi a vez de Vera Magalhães lançar em O Globo dúvidas sobre a eleição de Lula. Segundo ela, sob orientação do Centrão, houve mudança de rota na campanha de Bolsonaro, que deixou de vociferar contra a vacinação. E, graças à influência do Centrão, o Congresso liberou recursos para auxílio às camadas mais necessitadas da população, sem as quais o Capitão Corona não tem a menor chance de reeleição (metade do eleitorado tem renda familiar de até dois salários mínimos). A nova tática, diz Vera, está dando certo. “Bolsonaro apresenta recuperação de até quatro pontos nos dois primeiros meses do ano nas intenções de votos espontâneas de várias pesquisas.” A colunista afirma que é ingenuidade acreditar que “Bolsonaro é cachorro morto, mesmo com a caneta e o talão de cheques na mão”.
Desculpem-me pela reprodução de textos favoráveis a Bolsonaro. Mas é necessário para mostrar os concretos sinais de apoio da grande imprensa ao mandatário tresloucado que destruiu as conquistas sociais das últimas décadas. Acontece que Lula, ao expor projetos de seu governo, desagradou às elites. Suas críticas à reforma trabalhista e ao processo criminoso de privatizações causaram dor e ranger de dentes entre empresários e demais donos do poder. Também caiu como uma bomba a menção à necessidade de democratizar os meios de comunicação. Em editorial, O Globo afirmou que essa “é uma questão pacificada há décadas na sociedade brasileira” e destacou que o Congresso “é o melhor freio às intenções de Lula sobre a mídia”.
A Folha de S.Paulo também vai abrindo espaço a ministros do atual governo e aos filhos do presidente. Na terça-feira, publicou artigo de Flávio Bolsonaro sob o título “Moro soltou Lula”, que trouxe um conjunto de mentiras com origem possivelmente no “gabinete do ódido” do Planalto. A manchete desta quarta faz jogo de cena ao revelar que Flávio acionou a Receita Federal em sua defesa no caso das rachadinhas. Mas a verdade é que a Folha tem sido generosa ao abrir espaço aos projetos do governo que podem gerar votos. No online, a manchete é “novo saque do FGTS pode beneficiar 40 milhões de trabalhadores e liberar R$ 20 bilhões”. A ideia de Paulo Guedes é liberar saques do FGTS para a quitação de dívidas.Vale tudo na caça de votos para Bolsonaro.
Não tenho acompanhado o Estadão, até porque é inimigo jurado do PT. Seus editoriais contra Lula costumam ser ferozes. O jornalão dos Mesquita não perde tempo com tentativas de se mostrar imparcial. Como diria Leonel Brizola, a grande imprensa “está costeando o alambrado”. Diante do fracasso os candidatos da terceira via, prepara-se para dar apoio à reeleição de Bolsonaro.