Brincando com fogo

E se as viúvas de Bolsonaro resolverem tirar o arsenal do armário?

Em 2018, o Brasil tinha 203 mil CACs (caçadores, atiradores e colecionadores de armas) registrados. Mas atirar deve ter se tornado o esporte nacional porque, em meados de 2022, os CACs já tinham passado de 960 mil.

Em 2018, eram 4.900 registros por mês de compras de armas de fogo. Em agosto de 2022, esses registros mensais subiram para 37.400 e, coincidindo com o velório de Bolsonaro, saltaram para 60 mil —2.000 novas armas por dia. Com isso, o total de armas em mãos de civis, que era de 1.731.295 em setembro, já beira os 2 milhões. Tudo graças a quatro anos de decretos e portarias de Bolsonaro, segundo os quais pode-se flanar por aí com elas municiadas, a um clique do disparo.

Os possuidores desses trabucos, de uso “restrito” ou “permitido”, têm direito a comprar, respectivamente, de 1.000 a 5.000 cartuchos anuais de munição para cada arma. Como todo CAC está autorizado a ter em casa até 60 armas, multiplique isso pelo número de cartuchos que eles estocam em seus apartamentos e se imagine morando num edifício que, a um fósforo mal apagado, pode ir pelos ares. Esses números não incluem as granadas que eles guardam nas gavetas, nem as armas clandestinas, não registradas, nem aquelas que, magicamente, vão e voltam dos milicianos.

Durante quatro anos, o Brasil se armou por ordens de Bolsonaro, enquanto os militares assobiavam candidamente no azul. Ou talvez nem tão candidamente. Nunca se ouviu deles, por exemplo, que, se o Exército é o detentor das Forças Armadas do país, como tolerar a existência de uma força armada paralela a serviço de um desequilibrado? A não ser que também estivessem do lado do desequilibrado.

Neste momento, as viúvas de Bolsonaro estão só brincando com fogo, alimentado a gasolina e botijões de gás e dirigido a carros e ônibus. A ver se em breve não decidirão que é hora de tirar o arsenal do armário.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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