Amigo pró-Copa, amigo do #nãovaitercopa, estamos muito tensos, verbalmente violentos, virulentos, ranzinzas, autoritários, intolerantes, maniqueístas, suspeito que estamos todos como o artista e santista Nuno Ramos escreveu aqui nesta Folha, o suspeito no Brasil são sempre os outros, prendam ou culpem os suspeitos de sempre.
Um urubu parece ter pousado em nossa sorte, como diria o primeiro naturalista-punk, o poeta Augusto dos Anjos, 100% Paraíba. De urubu, vide obra na Bienal de SP, o Nuno entende. Estamos urubuzando geral a parada. Fosse pelo menos o fanático urubu do Henfil, símbolo do Fla, seria lindo, seria do jogo, da euforia da velha geral do Maraca.
Qual o quê. Se o futebol voltou para casa, o carma do subdesenvolvimento retornou abraçado com ele, velhos compadres de porre. O Brasil voltou a si mesmo como um corno manso volta para casa. Com todas as dores do mundo e um brega de consolação nos ouvidos. Toca outra vez, Waldick, mostra para eles, Evaldo Braga. Sem essa de espírito bossa nova de propaganda de Havaianas.
Não acho isso que vivemos tão ruim. É apenas a nossa cara de hoje no espelho, cara de ressaca de véspera, nossa imagem anterior era falsa, imagem de um Narciso com banho de loja em promoção no comércio da 25 de Março ou do Saara carioca.
E não adianta recorrer aos pensadores do Brasil para entender essa zorra. O tio Nelson Rodrigues também não é o cara dessa hora, mesmo que abusem da sua envelhecida metáfora da pátria em chuteiras –os meninos saem tão cedo que só reconhecem o Brasil pela comida da mãe. Os meninos saem tão cedo que ignoram até o mais cordato dos tapinhas nas costas.
Quem diria, a Copa que serviria, quando conquistada pelo governo, para consolidar nossa ideia de modernidade, vem nos lembrar do que queríamos, covardemente, esquecer: a assombração, o papa-figo do subdesenvolvimento.
Por isso que larguei os pensadores do Brasil, os Freyres, os Buarques de Holanda etc, e voltei direito à alma botafoguense de Paulo Mendes Campos. Só o melancólico lirismo de botequim explica o Brasil nessa hora. Está tudo lá, em uma só reunião de crônicas, no livro “O mais estranho dos países” (Companhia das Letras).
De certa forma, como diz o cronista, nós continuamos “brasileiro, homem do amanhã”. Nossa capacidade de adiar. “O brasileiro adia; logo existe”, goleia Paulinho.
Reconhecer o mais estranho dos países não é, como interpretariam os filósofos autoritários do Twitter, algo burramente negativo. É grandeza, é entender as contradições, a bondade e a ruindade de habitá-lo.
Com ou sem colonização Fifa. O que é a Fifa diante dos nossos erros históricos e dos nossos belíssimos acertos mestiços?
Xico Sá, Folha de S.Paulo