A única surpresa sobre a prisão do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), é que ela tenha acontecido só agora. O homem foi vice de Sérgio Cabral, ex-governador recordista em corrupção, cujos crimes aconteceram quando Pezão estava bem do lado dele, até porque foi também secretário de Obras de Cabral por longo período, entre 2007 e 2014. Para que Pezão não tivesse implicação com os crimes de seu titular Cabral, ele teria de ser ingênuo em um grau que é impossível quantificar. Não cabe nem usar criança como exemplo porque até uma criancinha desconfiaria do tio Cabral e sua mulher, tia Adriana Ancelmo, vendo os dois sempre em viagens nababescas e adornados com jóias caras e outros mimos.
Não causa surpresa também o montante de dinheiro dessa corrupção, sendo apenas a parte de Pezão mais de R$ 25 milhões entre 2007 e 2015, conforme a contagem da Procuradoria-Geral da República, que informa também que, corrigido pela inflação, o roubo passa de R$ 39 milhões. É tanto dinheiro que corre nos roubos até agora revelados que notícia de corrupção abaixo de um milhão parece nota de pé de página de seção policial.
Cá pra nós, é tão descarado e o volume de corrupção é tão grande que em um país com a Justiça em pleno funcionamento a polícia passaria em todo o governo do Rio de Janeiro uma rede de malha bem fina, levando para a cadeia quase todos em volta de Cabral e Pezão. Com esse problema encarado mais a sério pelos brasileiros, esses criminosos seriam obrigados a permanecer presos muito mais tempo do que costumam ficar na cadeia, sem nenhum dos benefícios usuais de abatimento do tempo de cumprimento da condenação.
É interessante que essa importante prisão ocorra em paralelo com o julgamento do indulto de Michel Temer que está sendo feito pelo STF, na apreciação de um perdão a corruptos, benefício que pode ser concedido por um presidente acusado também de graves crimes de corrupção. Ah, sim: tampouco será surpresa se logo mais Pezão for solto pelo STF, por Gilmar Mendes ou outro daqueles ministros que parece que estão sempre de plantão para tirar corrupto da cadeia.