A campanha de Lula ainda trata com alguma cautela o que se apresenta como uma espécie de voto crítico na disputa deste ano. A entrevista ao Jornal Nacional foi um exercício do ex-presidente para consolidar e tentar ampliar o apoio de um eleitorado que não se considera totalmente alinhado a seu projeto político e, em alguns casos, chega a operar nos limites do antipetismo.
Lula levou à bancada do telejornal um discurso contra três conhecidos gatilhos de rejeição nesse segmento: corrupção, alinhamento a ditaduras de esquerda e o governo Dilma Rousseff. O petista reconheceu desvios, falou em alternância de poder e admitiu decisões equivocadas na gestão de sua sucessora.
Considerando declarações recentes, Lula não falou nenhuma grande novidade. Mas, diante de milhões de telespectadores, enviou sinais de que não pretende insistir em pontos que despertam desconfiança numa faixa relevante do eleitorado.
A ideia do PT é amenizar o peso desses temas em grupos que estão fora da órbita da esquerda, dando um pouco mais de conforto a esses eleitores para a formação de uma aliança —mesmo que o único objetivo comum dos dois lados seja derrotar Jair Bolsonaro.
Esse movimento parte do cálculo de que a rejeição ao atual presidente é um fator crucial para aproximar Lula de uma parcela de eleitores que torcem o nariz para o PT, mas também reconhece que a oposição a Bolsonaro pode não ser suficiente para preservar essa conexão ou ganhar novos votos em momentos delicados da campanha.
O desafio de Lula é fazer com que esse eleitor resista ao bombardeio que a campanha de Bolsonaro vai fazer para que esse sentimento crítico se converta em antipetismo.
Lula já conseguiu o apoio de eleitores fora da esquerda e até de alguns ex-bolsonaristas. Ele ainda precisa garantir que esses grupos vão permanecer a seu lado e, principalmente, sair de casa para votar nele contra Bolsonaro (de preferência, já no primeiro turno).