Náufragos do asfalto

Não me deixe sem notícias
Sinais de fumaça – quem sabe
Acordo assustada com os gritos
Semana passada aconteceu de novo
Dessa vez foi uma menina
A noite e seus vertiginosos túneis
Por isso prefiro existir de dia
Salvo sua alma de um quase naufrágio com beijos emergenciais
Teu hálito de anti-depressivos
Contra minha bala de gengibre
A quem queremos enganar?
Ainda assim, arranco um gozo no deserto de teu corpo
Nossa transa se assemelha aquelas danças
Em que um dos dois é um boneco de pano
Você, essa ilha margeada de tristeza
E o maldito romantismo sussurando ao meu ouvido
Aguenta mais um pouco, só mais um pouco, assim
Me desafogo de ti com a mudez dos soldados que retornam das guerras
Arrumo a casa, faço a melhor comida
Aviso que eu mesma sairei para comprar as flores
Caminho em dias de sol
A neblina do amor pesa em meus olhos
Não vou dizer, mas quero deixar bem claro
Estou contando as horas pra que essa temporada de eternidade acabe

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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