Foto de Misquici
Nelson Rodrigues falava da solidão a que algumas pessoas se viam condenadas e as comparava a “um Robinson Crusoé sem radinho de pilha”. Mas Robinson tinha Sexta-Feira, o nativo que ele descobriu na ilha. Se Nelson vivesse hoje, talvez encontrasse melhor parâmetro para a solidão na antissaga da presidente Dilma.
Por todos os lados que se olhe, Dilma está ficando sozinha. Foi maciçamente abandonada pelo Congresso, o que inclui muitos deputados e senadores de seu partido, o PT. Na hora de votar a favor das medidas que a interessam, eles vão ao café, trancam-se nos gabinetes ou “esquecem-se” de apertar o botão. Os outros partidos da “base aliada”, então, já lhe deram as costas há muito tempo, e sem precisar devolver os ministérios e benesses com que Dilma comprou seu apoio.
Em compensação, vários ministros do partido de Dilma estão só esperando o momento para cair fora –para que ficar num prédio em chamas e ainda ser desfeiteado pela síndica? Dilma foi abandonada também pelos movimentos dos sem-teto, sem-terra e sem-ética, que não aceitam a sua tentativa de ajustar as finanças que ela própria e seus economistas bagunçaram com seu custoso populismo.
O eleitorado, este se despede dela em batalhões. Reduzida a 9% de aprovação popular em seis meses de mandato, teme-se que, em breve, os que restarem a seu favor caibam numa Kombi. Exatamente por isso, já se ensaia o abandono maior: o de Lula, para quem a renúncia de Dilma e a volta do PT à oposição seriam a sua –dele– única chance em 2018.
Outro dia, na Rússia, Dilma disse em entrevista: “Dilma Rousseff vai acabar esta legislatura”. Ao referir-se a si mesma na terceira pessoa, é como se também começasse a descolar-se da mulher que, para sua surpresa, não era bem aquela que suas campanhas eleitorais inventaram.
Ruy Castro – Folha de São Paulo