No seu texto, Siné escreveu:”Jean Sarkozy, digno filho de seu pai e já conselheiro-geral do [partido] UMP, saiu quase sob os aplausos de seu processo por fuga em sua lambreta. A Justiça o declarou inocente! Diga-se de passagem que o acusador é árabe! E não é tudo: ele declarou que vai se converter ao judaísmo antes de se casar com a noiva, judia e herdeira dos fundadores de Darty. Vai longe, esse menino!” Do lado dos oprimidos”. Obviamente, como o próprio Siné explicou, ele teria feito uma observação semelhante se o filho de Sarkozy fosse se casar com uma muçulmana e, para isso, se convertesse ao islã. Ou a qualquer outra religião de sua noiva. Anarquista e ateu convicto, o humorista defende a criação do Estado palestino e participa da coordenação francesa da Década de Cultura da Paz e da Não-Violência.
Por recomendação de seu advogado, Siné continua enviando sua colaboração semanal ao Charlie Hebdo, que deixou de publicá-la. A última foi publicada pelo site do Nouvel Observateur. Siné escreveu o que pensa do diretor do jornal satírico, da origem das divergências entre eles, e acrescenta:”Quanto ao meu suposto anti-semitismo, nunca fui anti-semita, não sou anti-semita, nunca serei anti-semita.
Condeno radicalmente os que são anti-semitas, mas não tenho nenhum apreço pelos que, judeus ou não, jogam irresponsavelmente essa palavra abjeta na cara de seus adversários para desconsiderá-los, sabendo que esta acusação é o insulto supremo depois do Holocausto (Shoah). Isso está se tornando insuportável. No que me diz respeito, tenho tanta antipatia por todos os que, judeus ou não, defendem o regime israelense, quanto pelos que defendiam o apartheid na África do Sul. Há mais de 60 anos luto contra todas as formas de racismo e se tivesse tido idade de esconder judeus durante a ocupação o teria feito sem hesitar, como o fiz pelos argelinos durante a guerra da Argélia.
Estou do lado de todos os oprimidos!”. Siné não gosta de idiotas” Esse affaire desencadeou uma polêmica entre intelectuais franceses sobre o tema do anti-semitismo. O filósofo Bernard-Henri Lévy analisou, no Le Monde, o caso Siné num artigo intitulado “De quoi Siné est-il le nom?” parodiando o livro de Alain Badiou, De quoi Sarkozy est-il le nom?, que ele cita. Lévy chega ao cúmulo de afirmar que o antisarkozysmo pode ser hoje uma deriva do anti-semitismo. O filósofo Alain Badiou respondeu imediatamente no próprio Le Monde com um artigo irônico e de uma finesse extraordinária, para protestar contra a utilização para fins diversos da acusação de anti-semitismo na França atual.
O título, “Tout antisarkozyste est-il un chien?”, remetia às metáforas zoológicas de seu livro, interpretadas por Pierre Assouline como anti-semitas. Sartre, citado por Lévy, também é invocado por Badiou no seu delicioso artigo.Entre as vozes que se levantaram para defender Siné contra a absurda acusação, uma foi particularmente importante: Gisèle Halimi, que foi advogada de Jean-Paul Sartre, escreveu uma carta aberta a Philippe Val assegurando que se ele fizer um processo por anti-semitismo contra Siné não tem chance alguma de ganhar na Justiça.
Há poucos dias, o site do Nouvel Observateur pôs no ar uma petição de apoio a Siné que pode ser assinada online. Redigida por Eric Martin, Benoît Delépine e Lefred-Thouron, ela declara apoio “total e incondicional” ao desenhista anarquista e termina dizendo: “Siné não é anti-semita. Siné não gosta dos idiotas. Siné é um anarquista. Viva Siné”. Essa petição já foi assinada por filósofos como Michel Onfray e Daniel Bensaïd, por grande número de jornalistas, pelo dirigente da Liga Comunista Revolucionária, Alain Krivine, pelo vice-presidente da União judaica francesa pela paz, Pierre Stambul, e pelo fundador de Médecins sans Frontières, Rony Brauman, entre milhares de outros franceses.
Observatório da Imprensa.
Uma resposta a Caricaturista acusado de anti-semitismo