Caros senhores da Editora Abril e da Revista Bravo

A SIBSociedade dos Ilustradores do Brasil –, que é uma entidade sem fins lucrativos e que visa a valorização do profissional da ilustração e de seu mercado de trabalho, não poderia deixar de repudiar o recente concurso “cultural” anunciado pela revista Bravo! Não somos contra concursos, pelo contrário. Existe uma tradição secular no mundo todo que torna esta prática uma oportunidade para que jovens talentos mostrem sua produção e que possam vir a ter seu trabalho reconhecido. O que não podemos entender e aceitar é que o regulamento deste concurso “cultural” não ofereça nada em troca a não ser fazer outro desenho para ser publicado. E que esses desenhos passem a ser patrimônio da Editora Abril.
E que o “ganhador” deve aceitar e não reclamar de absolutamente nada mesmo que os editores aprovem seu trabalho e resolvam, a seu bel-prazer, modificá-lo conforme a edição exigir. Isto é “cultural”? A SIB deseja um outro tipo de cultura. A do respeito. Centenas de jovens apresentam seus portfolios a editores de revistas todos os anos. Será que desses, nenhum mereceria a chance de publicar já sendo remunerado? Será que nenhum deles preenche os requisitos mínimos para se tornar um profissional, ainda que, digamos, junior?
A Editora Abril tem feito dezenas de leituras de portfolio durante a bem sucedida exposição “Ilustrando em Revista”. São garotos de vários estados que, esperançosos, encaram a fila e o crivo de profissionais da Editora. Impossível não haver entre eles alguns que já poderiam se iniciar na arte da ilustração nas páginas das revistas da Abril sendo remunerados.
O regulamento do concurso não tem absolutamente nada de cultural. Ele é um contrato econômico e uni-lateral, infelizmente. A Abril faria mais se valorizasse seus profissionais, seus colaboradores, e que respeitasse os leitores que ainda restam oferecendo a eles um produto profissional e qualificado. Ganharíamos todos nós.

Atenciosamente, SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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