Carta aberta de uma ‘quarentona’ às alunas de Bauru

Mulheres de 40 anos não saem publicando asneiras na internet

Caras alunas estudantes de biomedicina de Bauru, É provável que vocês não me conheçam. Não posso dizer o mesmo, já que tive o desprazer de vê-las após a repercussão dos stories que publicaram no Instagram.

No post vocês reclamam de uma colega de faculdade pelo fato de ela ter 40 anos. Perguntam “como se desmatricula” a colega porque, com essa idade, ela deveria estar aposentada, já que “não sabe usar o Google”.

Como um exemplar desse ser que vocês tanto temem, a mulher com mais de 40 anos, fiquei mais intrigada do que indignada. Não sei se “pensar” seja uma atividade que vocês pratiquem, mas fiquei pensativa.

Me intrigou o fato de vocês acharem que não saber usar o Google seria impedimento para fazer faculdade. Vocês não sabem usar o Instagram e conseguiram se matricular.

Vocês poderiam ter feito uma dança no TikTok, assistido a memes de gato, fumado caneta, mas preferiram gravar um vídeo zombando da colega de 40 anos. O que as incomoda tanto? Seria o fato de verem nela um destino inevitável? Porque a outra alternativa é um pouco mais assustadora. Quem já chegou perto falou que não é legal.

Quando entrei na faculdade, no “esplendor” dos meus 18 anos, era uma versão ambulante do ditado “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. Tinha a pele de porcelana, mas, internamente, era só cerveja, desequilíbrio emocional e a dúvida “será que o Beto do 4º ano gosta mesmo de mim ou só me liga às terças porque transa com outra?” (também não tinha talento para entender que era a segunda alternativa).

Foi justamente após me tornar “quarentona”, essa categoria que tanto me orgulha, que realizei as conquistas mais importantes da minha vida. Desbravei novas áreas profissionais e dei os passos mais significativos da carreira. Corri duas maratonas. Engravidei e dei à luz dois meninos gêmeos.

Hoje tento passar a eles valores que talvez seus pais não tenham ensinado, como respeitar as pessoas e suas escolhas. Apoiá-las na busca de seus sonhos. Não repetirem os inúmeros erros que vi sendo cometidos por aí.

Está aí mais uma vantagem de ter mais de 40 anos. Saber que qualquer coisa postada em redes sociais pode se tornar pública. Por isso, mulheres de 40 anos, além de não pensarem só em asneira, não saem por aí as publicando na internet.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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