Pois é, Mercer! Resolvemos fazer uma reunião para falar sôbre você. Não que precisemos disto para lembrá-lo. Várias noites eu acordo pensando em telefonar para você . Para comentar algum livro ou para tirar a dúvida sobre quem foi o ator coadjuvante do filme “No tempo das diligências”. Dessas coisas que só você sabia. Logo me lembro que você não está, fisicamente, mais conosco.
Então, fico imaginando como será tua vida longe de nós. Conhecendo teu temperamento, sempre me ocorre a idéia de que você possa ter perdido a paciência as harpas tocadas pelos anjos durante a eternidade e arranje um jeito de incluir nesta orquestra um cavaquinho e um tamborim.
Nossos amigos vão bem. O Queixinho do Bar Botafogo também já nos deixou. Ele e o Divonei Campos. Você há de encontrá-lo qualquer dia desses.
São tantas coisas que eu queria te contar, mas a arte é longa e a vida, curta. Não posso deixar de dizer alguma coisa sobre política. Nem me pergunte. O PT, que era o médico, transformou-se no monstro. Nunca se roubou tanto. O País está sendo dirigido por uma lula sem cabeça.
Quando converso com alguém de nossa intimidade, sempre me pergunto como foi a tua vida. Ocorre-me então as palavras de um sábio francês : “Sempre achei que deveríamos escolher para nossos aliados e juízes perpétuos a ironia e a piedade. A ironia que eu invoco não é uma divindade cruel. Não zomba do amor nem da beleza. Mas é ela que nos ajuda a rir dos velhacos e dos parvos e a sermos tolerantes com o ódio e o desdém. A piedade com seu pranto justifica a vida”. Na minha opinião, você sempre viveu mais ou menos dentro desses parâmetros.
Com estas palavras, digo adeus.