Cartum

Na década de 70 eu colaborava esporadicamente com O Pasquim. Com a criação da Editora Codecri inúmeros livros foram lançados, entre eles o Dicionário de Comunicação, se não me engano, pioneiro na área. E, no verbete “cartum”, foi usado um desenho meu (vide selo). Como o original ficou com a editora, mando outro cartum, sem legenda. Aliás, a maioria dos cartuns e charges publicados em jornais e revistas na época  ficaram onde foram publicados. Éramos jovens e o futuro um tempo muito distante. Solda

Narrativa humorística, expressa através da caricatura e normalmente destinada à publicação em jornais ou revistas. O cartum é uma anedota gráfica. Seu objetivo é provocar o riso do espectador; e sendo uma das manifestações da caricatura, ele chega ao riso através da crítica mordaz, satírica, irônica e principalmente humorística do comportamento do ser humano, das suas fraquezas, dos seus hábitos e costumes. Muitas vezes, porém, o riso contido num cartum pode ser alcançado apenas com um jogo criativo de idéias, por um achado humorístico (que em francês se chama trouvaille) ou por uma forma inteligente de trocadilho visual. O cartunista pode recorrer às legendas ou dispensá-las. Os cartuns sem legendas ou sem texto foram chamados, durante muito tempo, pela imprensa brasileira, de “piada muda”.

Eram comumente publicados, também, com a legenda “sem palavras”. A idéia de que o cartum sem legenda (que teve seu apogeu nas páginas da revistas francesa Paris Match nos anos 50) teria mais qualidades do que o cartum com diálogos ou texto, levou um dos maiores cartunistas do Brasil, o mineiro Borjalo, a criar um boneco sem boca para ilustrar todos os seus cartuns (Revista Manchete, década de 50). Na composição do cartum podem ser inseridos elementos da História em Quadrinhos, como os balões, subtítulos, onomatopéias, e até mesmo a divisão das cenas em quadrinhos. A narrativa do cartum pode constar de uma cena apenas ou de uma seqüência de cenas. No primeiro caso, o riso deve ser alcançado pela idéia contida no desenho de um simples momento; no segundo, em geral, a narrativa conduz para um desfecho engraçado. O termo cartum origina-se do inglês cartoon — cartão, pequeno projeto em escala, desenhado em cartão para ser reproduzido depois em mural ou tapeçaria. A expressão, com o sentido que tem hoje, nasceu em 1841 nas páginas da revista inglesa Punch, a mais antiga revista de humor do mundo.

O Príncipe Albert encomendara a seus artistas uma série de cartoons para os no vos murais do Palácio de Westminster; os projetos dos artistas reais, expostos, foram alvo da crítica e da mordacidade do povo inglês e a revista Punch resolveu publicar seus próprios cartuns, parodiando a iniciativa da Corte. Em quase todas as línguas do mundo, a palavra cartoon, com esse sentido, não tem equivalente: franceses, alemães, italianos, todos chamam cartoon de cartoon, mantendo inclusive a grafia original inglesa. No Brasil, foi na revista Pererê, de Ziraldo, edição de fevereiro de 1964, que se lançou o neologismo cartum. A charge e a tira cômica podem ser consideradas subdivisões do cartum.

Dicionário de Comunicação|Editora Codecri|1978

Revista Ideias nº 132|Travessa dos Editores

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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