domingo, 7 de junho de 2015, 10h45.
coloco a edição do dia da folha de s. paulo sobre a mesa para uma rápida espiada. nisso o celular apita. é o quadrinista e amigo gustavo duarte.
– viu a folha hoje?
– acabei de colocar sobre a mesa pra ler. que rola?
– vê o anúncio de página inteira sobre liberdade de imprensa no primeiro caderno.
sobre um fundo cinza 15%, 126 nomes de colunistas e a chamada: “concordando ou não, a folha faz questão de publicar opiniões de todos os ângulos”. 7 de junho. dia da liberdade de imprensa.”
matar a charada foi fácil. na lista de 126 colaboradores do jornal não há um só nome de cartunistas. mesmo fazendo parte de uma das seções mais lidas do jornal, a charge da página 2, angeli, jean galvão, bennet, laerte e joão montanaro não entram na lista de diversidade de opinião da folha. como também não entram adão, allan sieber, fernando gonsales, dahmer, fábio moon, gabriel bá, luli, pryscila vieira, cynthia b., chiquinha, e luiza pannunzio que publicam suas tiras na ilustrada. também não contam os chargistas do caderno de economia nem os caricaturistas e ilustradores que dão forma a vários dos textos dos colunistas.
não tem coitadismo aqui. vale uma reflexão. jornais e revistas estão cegos ou os cartunistas ficaram, repentinamente, invisíveis. há tempos jornais são pautados pelas colunas. o leitor assina este ou aquele jornal por conta da opinião deste ou daquele político, economista, artista ou celebridade. as notícias estão na internet desde o dia anterior. e o pessoal da redação, mal formado, sempre preocupado com seu próprio umbigo e emprego, acha que charges, cartuns, tirinhas e ilustrações são aqueles penduricalhos que servem, se houver espaço claro, para enfeitar a página.
cartunistas, por outro lado, se conformam com esse papel de coadjuvantes na grande imprensa. uma grande imprensa na qual eles mesmos não botam mais fé. o lance é partir para o martírio solitário da auto-publicação, da auto-distribuição, do publicar na gringa.
o irônico é que esta mesma imprensa é a que dedicou páginas e páginas com charges e matérias sobre o atentado à redação do nanico parisiense charlie hebdo. jornais e revistas publicaram charges que jamais publicariam em suas edições diárias se feitas por cartunistas brasileiros. apoiou uma liberdade que ela própria não pratica.
lembrar que diversidade é uma coisa, liberdade é outra bem diferente.
a lista de colunistas da folha é, realmente, muito diversa. ponto a favor. mas é incompleta e isso é imperdoável.