– Alô, aqui é o Ziraldo, pode vir conversar comigo agora? Estou no bairro do Ipiranga.
Claro que fui. Nessa época, era cronista da Caros Amigos e do Jornal da Tarde. Lançara ainda o livro O caseiro do presidente. Supus que o pai do Menino Maluquinho queria falar comigo sobre colaborações no jornal Pasquim 21, que sairia em fevereiro de 2002.
Foi em parte. Isso porque, ao entrar no prédio no Ipiranga e abrir a porta de uma das salas, fui recebido por Luís Inácio Lula da Silva. Que, me vendo, disse:
– Vamos entrar, companheiro. Ziraldo e os outros jornalistas já chegaram. Tem água e café naquela mesa, só pegar.
Fiquei atônito. O que o candidato Lula fazia ali? Súbito, Ziraldo explicou:
– Participa primeiro da entrevista com o presidente, vai sair no primeiro número do Pasquim 21. Acabando, a gente conversa.
Sem pauta preparada com antecedência, fiquei ali, mais perdido do que eremita na avenida Paulista. Encaixei uma ou duas perguntas, foi o máximo de contribuição naquela data.
Terminada a reunião, Ziraldo me deu uma sugestão:
– Você assina as crônicas como Carlos Castelo Branco. Só que antes teve o Castelinho, teu homônimo. Que tal a gente usar Carlos Castelo Branco II, ou Carlos Castelo Branco, the second?
No Pasquim 21, meus textos saíram todos como Carlos Castelo Branco, the second. Esse toque do cartunista me fez passar a adotar depois, e em definitivo, o nom de plume Carlos Castelo. Assim, afinal, diminuía a confusão entre a minha pessoa e a do parente imortal da Academia Brasileira de Letras.
Mais uma boa sacada do mineirinho. Na hora, confesso, achei que ele iria propor Castelo de Bundas. Ainda bem que veio o “the second”. Seria cômico, se não fosse trágico.
(Estadão)