Segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas) Social, cerca de 28 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil. A jornalista Fernanda Mena Kiki, diretora-executiva na Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criada por Betinho, o irmão do Henfil, fala em 32 milhões de brasileiros. Antes da pandemia de Covid, em 2019, eram pouco mais de 23 milhões de indivíduos. Em 2022 houve um salto de 11,8%.
Há controvérsias sobre a condição de pobreza: para a ONU, uma pessoa é pobre quando tem uma renda equivalente a US$ 1,25 por dia ou cerca de dois reais. Outros organismos citam US$ 1,90 e até US$ 5,00, o que equivaleria, pelo dólar atual, a pouco mais de R$ 20,00. A União Europeia, por sua vez, diz que uma pessoa pode ser tida como pobre quando ganha 60% da renda média do país. No Brasil, se considerarmos a renda média do última trimestre de 2021 (R$ 1.378,00), seria de R$ 826. Já na Dinamarca, pobre seria quem ganha igual ou menos de R$ 2.500,00.
Seja como for, há muita gente passando fome e sofrendo frio no Brasil. Só em situação de rua, o IPEA estima em 221 mil pessoas. Com tendência de crescimento.
E o que faz o governo para combater a pobreza? Rigorosamente nada, além de programas fictícios, como “Brasil sem Miséria”, que não saem do papel. Dráuzio Varella, aliás, garante que nada se pode esperar de solidariedade dos governantes, que já provaram desconhecer o significado dessa palavra.
O atual desgoverno, então, além de ignorar solenemente a desgraça popular, não aplica na educação, na saúde, na segurança, na previdência social… Quer é encher a pança, própria e a dos aliados congressistas, com o cartão corporativo e o orçamento secreto.
O tema foi enfrentado com coragem e inteligência pelo nosso Cláudio Henrique de Castro, na segunda-feira, aqui mesmo neste espaço: “Não bastasse a propaganda partidária que, na prática, tornou-se propaganda eleitoral antecipada, com personagens que buscam a (re)eleição, temos esse mundo de dinheiro sendo distribuído sem critérios e de forma secreta.”
E seguiu em frente “Atualmente, a liberação de recursos do orçamento é a principal moeda de troca em votações importantes no Congresso. O dinheiro disponível neste ano era de R$ 16,5 bilhões, mas o governo efetuou um bloqueio de R$ 1,7 bilhão em março para compensar o aumento de outras despesas.”
Ainda assim, restou um mundaréu de dinheiro, distribuído através das chamadas emendas parlamentares. Individuais, de bancada e de comissões permanentes, todas sem teto de valor definido.
“As emendas de relator” – escreveu Cláudio Henrique – “ampliaram o controle do Congresso pelo Executivo em relação ao orçamento, em detrimento de ações estruturais dos ministérios”.
CHC sabe o que diz. É jornalista, advogado, historiador, escritor, professor de Direito, servidor público estadual envolvido com os números e futuro deputado federal. Revela que “ao longo do mandato de Bolsonaro, governo e Congresso destinaram R$ 65,1 bilhões do Orçamento para as emendas de relator. Desse total, R$ 36,4 bilhões foram empenhados, etapa em que o dinheiro é reservado para ser pago quando o bem ou serviço forem entregues”.
Com tais acordos e compromissos, não sobra dinheiro para os miseráveis. Eles que se amontoem em praça pública, enleiem-se em seus cobertores puídos, engulam um gole de pinga e alimentem-se com as doações oferecidas pela população, pelas igrejas e pelas ONGs.
O governo tem coisas mais importante para tratar. E morador de rua não vota.
P.S. – O capitão celerado afirma que não tem nada a ver com a morte, com requintes de crueldade, do indigenista e do jornalista. Tem tudo. Afinal, quem é que protege o incentiva os bandidos da Amazônia?