Célio Heitor Guimarães

Dilma-Foto-de-Roberto-Stuckert-Filho-ParanáFoto de Roberto Stuckert Filho|PR

Leio que Lula está perdendo a paciência com Dilma. Todos sabem que não votei nela e que tenho muito pouca simpatia por ela, mas, neste quesito, ouso defendê-la. Por um simples motivo: se ela hoje está enfiada no centro do furacão, com a popularidade ao rés do chão e ouvindo panelaços Brasil adentro, a culpa é dele. E não por tê-la escolhido para sucedê-lo, mas porque ele é o responsável – por ação ou omissão – pelo quadro que aí está.

Tirante o represamento artificial de preços e tarifas e os subsídios sustentados pela “presidenta” nos últimos anos – não para proteger trabalhadores e empresas, como diz, mas para garantir a sua reeleição – e que resultaram no desequilíbrio das finanças públicas e no bloqueio do crescimento nacional, o atual saque do Brasil, via Petrobras – o maior de todos os tempos –, que desencadeou e vem fermentando a Operação Lava Jato da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal, nasceu e institucionalizou-se no governo de Luiz Inácio da Silva. É a porção mais sofisticada e ambiciosa do velho “mensalão”, cujo objetivo é eternizar o PT no poder.

O povo brasileiro sabe disso. E não apenas a “elite branca”, os donos de “sacadas goumets” ou o eleitorado que votou em Aécio Neves. Prova é que Dilma não está podendo sair às ruas hoje em dia. Seja na Avenida São João dos paulistas, na N. S. de Copacabana dos cariocas, na Afonso Pena dos mineiros, na Marechal Deodoro dos curitibanos, na Rua da Praia dos gaúchos ou em uma ruela qualquer do agreste pernambucano. Lula, então, anda tão sumido ultimamente que, se morasse aqui em Curitiba, eu seria capaz de jurar que ele tem feito companhia, debaixo d’água, ao jacaré do parque Barigui, respirando por um canudinho.

Dilma não é a responsável pela safadeza que se abateu sobre o país. Ou não é a maior responsável. Atrevo-me a sustentar que, de certo modo, ela chega a ser até vítima, como todos nós. Nunca pensou em governar o Brasil; sabia que, pelo cacife eleitoral, pelo temperamento, pela falta de cintura (que nada tem a ver com as medidas de s. exª.), pela minúscula experiência administrativa e por outros entretantos, jamais chegaria lá. Como ex-combatente da ditadura militar, estava satisfeita com o afeto de Leonel Brizola e o acolhimento de Luiz Inácio. Mas aí José Dirceu, escalado a princípio para suceder o “chefe”, tropeçou no pé de Roberto Jefferson e acabou prematuramente na cadeia. Lula foi, então, obrigado a transformar Dilma em “gerentona”, condecorou-a como “mãe do PAC” (lembram-se dele?) e a entronizou no Palácio do Planalto. Entregou-lhe de bandeja, todavia, uma herança maldita. Deu no que está dando.

No Planalto, Dilma foi sempre uma solitária. Nem a equipe de governo pôde escolher. Ganhou o palácio “de porteira fechada” e viu-se cercada de incompetentes, oportunistas e bandidos. Foi quase sempre uma estranha no ninho. Nem do PT era originária. E por isso grande parte dos petistas jamais a tolerou. Quando tomou pé da situação, aprendeu os atalhos do poder e quis agir por conta própria, era tarde demais.

Sou capaz de dizer que Dilma pretendia fazer um bom governo. A História assim o exigia. Foi a primeira mulher a chegar à chefia da Nação no Brasil. Não é pouca coisa. E até começou bem. Arredou a pirotecnia do antecessor, suspendeu o turismo internacional que encantava Lula, deixou de ditar cátedra a líderes mundiais e até esnobou, num primeiro momento, os donos do capital e os bandoleiros do Legislativo. Passou a cuidar do Brasil. Só não conseguiu se afastar dos conselheiros da farsa, da mentira e da dissimulação, daquela mal acostumada turma palaciana, da linha direta com o Instituto Lula e de um trágico ministro da Fazenda, mais parecido com um guarda-livros de armazém de secos e molhados, cuja maior virtude era ter uma filha bonita que ilustrava as páginas das revistas de celebridades.

Agora, a “presidenta” está aí nessa situação constrangedora. Motivo de chacota internacional, como no vídeo que corre pela internet, no qual um apresentador da tevê americana (Last Week Tonight, com John Oliver, da rede HBO dos EUA e do Canadá) a ridiculariza por haver afirmado que a corrupção na Petrobras “é transitória”… Quando deixar a faixa presidencial, coitada, não será eleita nem síndica do seu prédio.

E Lula está perdendo a paciência com ela…

P.S. – Até tu, Leonardo?! O considerado teólogo Leonardo Boff foi ao Uruguai e lá se saiu com essa pérola: “No Brasil há uma raiva generalizada contra o PT, que é ódio aos pobres…”. Com efeito, reverendíssimo! No Brasil, o ódio não é contra o PT e muito menos aos pobres. Aqui, odeia-se a corrupção e a patifaria.

Blog do Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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